Angst:
talvez um duelo, elevado ao Infinito das oposições e das composições.
Angst:
Talvez Duelo, supremo ou primordial
duelo dentro do meu sangue vivo
sobre-contra-através o Projeto de Tudo e Nada em mim, infinitamente singular e universal, infinitamente comigo, contigo, connosco, convosco:
quem sou, quem quero ser, quem posso ser, quem devo ser? quem sou em mim, por mim, comigo? quem sou em ti, por ti, contigo? quem sou em nós, por nós, connosco?
quem és em mim, por mim, comigo? quem és em nós, por nós, connosco?
quem queres ser ? quem podes ser? quem deves ser?
em mim, por mim, comigo? em nós, por nós, connosco?
Quem somos, quem queremos ser, quem podemos ser, quem devemos ser?
Angst:
um duelo, onde,
um duelo, onde, em cada golpe, os adversários crescem
mais fortes e mais combativos e mutuamente invencíveis,
ninguém perde, ninguém ganha, ninguém se rende, ninguém se esgota.
Duelo de intensidade em progressão geométrica até ao Apocalipse do Todo.
Duelo é a energia da combustão e a matéria combustível - tudo aparentemente tendendo
para Infinito
no corpo animado de tudo.
Duelo Inteiro Insolúvel.
Duelo em que o infinito se fragmenta e se sintetiza em aflição
questões de aflição, questões de golpes dilacerantes,
feridas na Incompreensão que não repousam nunca.
Angst:
É o Todo, a Intriga verdadeira e falsa:
o Duelo talvez em toda a luz e treva, em toda a mão e boca.
Ser é indefinidamente sem Paz, absolutamente sem Paz.
Angst:
confrontação de mim comigo diante do Fim iminente possível.
Qualquer instante é Capaz de Absoluto Princípio ou Fim,
Nascimento ou Metamorfose,
Limite ou Limiar.
Cada instante é inteiramente Capaz-de-Deus.
Angst:
Talvez Duelo: Perigo, aflição, excesso de Silêncio dentro da Palavra.
O choque de um instante sísmico: alteração total da geografia e da psicografia
instante interrogante discontínuo.
Esta confrontação contém-me.
Angst:
Reconheço-me na Alteração
comigo contigo connosco
o meu mar inteiro passado, as tuas âncoras livres, as nossas bússolas no coração,
os meus portos abertos, as tuas praias solares, as nossas Pessoas sagradas,
tudo em perigo de Principiar infinitamente Novo ou submergir para sempre,
tudo na aresta de um Milagre ou Abismo possível
(Imagino Édipo, pedindo exílio em terra estrangeira, após o colapso de todas as aparências de Verdade, hiperconsciente de ter vivido perdido desde o nascimento, acalmando o desejo de decifrar, aprendendo a orar sem Palavra, religando-se ao Mistério da Ignorância...)
(Imagino Édipo, o miserável decifrador, quase no Fim, depois de se impor a cegueira que salva o sentido de ouvir e tocar... a humildade de Logos diante de Caos: "Agora, creio ser possível saber algo sobre quem sou. Mas poderei agora viver ainda alguns dias em Verdade comigo, contigo, connosco? Poderei agora permanecer, pelo menos um instante final mínimo, nesta vida, bebendo outra água na fonte do Santuário: água de gratidão, água de perdão, água de paz? Serei agora ainda capaz de viver um instante de Primavera Nova: pensar-me e sentir-me e compreender-me e amar-me nos braços de uma filha autenticamente minha filha, íntima da minha Desgraça, sem lar no mundo senão a certeza da Passagem e da Lei de Eterna das ligações entre vidas?)
(Imagino Édipo compreendendo-se, transparente e transvidente nos olhos infinitos de Antígona... "Éramos inteligências furiosas que perseguiam a vida contra a Necessidade, confiantes nas suas forças, ignorantes da sua miséria crescente. Somos agora cósmicos, mais capazes da Sabedoria-de-respirar...")
(Imagino Édipo em metamorfose para sacerdote-mendicante-de-nada, nos instantes interrogantes descontínuos da sua última Era Finita, sempre mais capaz de pertencer ao Fogo-vento-indecifrável: sempre mais capaz de transcender a Inteligência e transcender a Fúria... )