no chão da minha praia há também longos dias de granito cintilante
os cristais anoitecem brilhando contra a queda da luz
o mergulho do sol nadando para outra profundidade
e eu sentindo a vertigem da apneia como um afogamento intoxicado
de silêncio exatamente silêncio
e memória clara de carência
transparente e obscura tão louca carência
língua e saliva de expectação amorosa
mas língua e saliva sem voz capaz de passagem
sobre o abismo dos felinos
silêncio louco
boca-a-boca
o vapor do sal dentro da espuma de beijar toca na incompreensão
enquanto ao pôr do sol o desejo de sentir pensando e compreendendo
toca no cerne quente do granito
progredindo no sentido da fração e da areia
que sinto pensando-Te claramente na desordem
sem palavras à superfície de uma dor-enigma
um questão mais vasta do que o Desejo de pensar e beijar
a gramática dos verbos germinando entre nós
sinto a língua incapaz de significar plenamente quanto respirar é ainda
sempre uma aproximação de fogo
uma combustão nas válvulas do Absoluto
meu coração meu problema meu texto
Hora de Descoberta ainda interroga Hora de Liberdade
um fluxo de sangue preenche o círculo do sol
sangue quente de corpo Indefinido
as fúrias insondáveis de Eros correm no sangue
correm de alguém
por alguém
Descoberta e Liberdade de Oceano nos mapas
tatuagens de sangue de animais no peito e no rosto
curso de sangue equívoco nos cristais do granito
futuramente vapor de granito
transpiração da Descoberta
boca-a-boca
numa era futura o granito será areia e vapor e carícia de espuma
outro modo de nascer por nada senão atmosfera de mundo novo
outro modo de ser corpo e infinitos tecidos de pele
minha pele que respira e arde e exclama