Saturday, May 31, 2025

Perder Método e ganhar Kosmos


 Perdi o caminho. Perdi a bússola. Perdi o mapa. 
(Confesso: Que alegria de perder! Que alegria de Libertação! Pode começar o tempo: alegria dentro do corpo dentro da vida dentro da história!)

Agora, pode começar: a hora madura será o caminho, a liberdade madura será a bússola, a imaginação madura será o mapa.  

Sunday, May 25, 2025

chamo-me aqui agora sem-nome


 ter um nome é também ter o Desejo da Mãe como destino e mapa-mundo

aqui agora não ouço esse Desejo no corpo e começo no meio da viagem a chamar-me sem-nome

Florestas nos caminhos


 As florestas crescem no meio dos meus caminhos. Assim, aprendo a tocar no sol através da sombra verde e a perder-me com forças verticais desde a raíz húmida até ao indefinido dos ventos livres acima, muito acima, da minha ideia de metamorfose que converte vapor de medo em pássaros de coragem 

Sunday, May 18, 2025

Monday, May 12, 2025

Desejar = Imaginar = Mover o Espaço


Sempre que desejo, imagino. Enquanto desejo, imagino. Porque desejo, imagino.
Desejo sempre o imaginável. Imagino sempre o desejável.
 
Cada desejo, enquanto perdura, faz existir a imaginação: produz as imagens que animam uma vida em movimento desejante, inteiramente esperança de aventura: porque desejar é imaginar a aproximação do futuro 

Cada vida desejante imagina no céu a sua Via Láctea guiando o tempo para a vinda tão esperada, tão amada, tão pressentida, que já vive e já move e já cria todo o espaço

As imagens das vidas desejantes sonhadoras são concepções ou compreensões: cada sonho tem o código e a inteligência do código dos caminhos futuros: o tempo inteiro abrindo o espaço enquanto o sonho concebe e compreende e pressente

Cada sonho explica o cosmos das vidas sonhadoras, declarando amor no movimento, redação sobre a pele do céu, como se, por acaso, a imagem do céu fosse a imagem dos corpos amados que querem ocupar sempre o mesmo espaço e mover sempre o mesmo círculo

Por acaso significa talvez por necessidade: a ignorância que surpreende a vida que ignora as suas moções mais primordiais, desde antes de conceber-se como algo-alguém na geometria quente dos animais em movimento neste mundo 

Por acaso, num sonho, o desejo de um fruto começou a escavar um poço para regar as árvores do jardim. Quando o desejo tocou na dureza do desconhecido e desesperou do futuro da água nascente, a temível rocha do fundo da escavação não era o fim das forças e o deserto futuro vindo de dentro, mas a surpresa de um tesouro que esperava sob muita terra dura algo-alguém em movimento pela força escavadora do desejo

Por vezes, escavar um poço num pomar em perigo de vida e morte é como conceber um caminho redigido na pele do céu

 

Friday, May 2, 2025

multidão de poetas despindo mulheres


Eva sobe às árvores no Jardim, Vénus sobe das águas no Oceano
infinita ascensão da Sororidade no Segredo
Eva conhece os ninhos de serpentes, Vénus os sais de espumas
 
em todos os museus do mundo, muitas mulheres nuas, muitas irmãs Evas, muitas irmãs Vénus, 
dobram-se no granito e no mármore, saindo das ondulações de árvores e de águas, procurando inquietas um instante de paz e de sigilo: como se pudessem um instante desejar ser deusas

nas suas insónias de adoração e de imaginação, uma multidão de homens esculpe mulheres nuas, pinta mulheres nuas, escreve mulheres nuas... depois, condenadas à exposição eterna até que se extinga a matéria finita da escultura, da pintura, da escritura.

a multidão de homens, que despe as mulheres, sofre de carência e de abundância, oscilando muito perigosamente entre êxtase e angústia

essa multidão de homens imagina e enlouquece imaginando:
como se pudessem um instante desejar o ser de deusas
como se pudessem criar a Forma do Absoluto com matéria
enquanto as mãos transpiram.
São os piratas embriagados de Poiesis.

no apogeu do seu álcool, os poetas das mulheres nuas imaginam a sua verdade na sua loucura: a incapacidade de não-imaginar enquanto remam no fundo das naves de Desejar.
os poetas das mulheres nuas interpretam o seu hálito alcoólico: somos animais mais inclinados por Desejo do que Amor, mais febris de voracidade do que dom-de-vida 

os poetas inventam sinais, esculpindo, desenhando, escrevendo a nudez das mulheres à luz da Ideia-emoção da pele nua do corpo integral de mulheres, mais ou menos divinas e concretamente carnais, mais ou menos próximas e abstratamente intocáveis   
 
em todos os museus do mundo, a multidão antiga dos poetas das mulheres nuas excita outra multidão de homens que irrompe no chão e no teto, atravessa as paredes, armados com a fúria de devorar o granito e o mármore e toda a carne humana dos incêndios. 
Estes homens sentem a vertigem dos primeiros poetas, devoradores de carne humana, e surpreendem-se obsessivos-compulsivos numa aceleração sem consciência do seu sem-princípio e do seu sem-fim
um segredo interroga uma dúvida: Porquê despir e expor sempre mais as mulheres dentro de nós?
 Estamos no caminho pedagógico do Desejo 
em metamorfose amorosa? ou erramos numa solidão imaginante, 
incapaz de fazer caminho, encontrar caminho, seguir caminho? 

muitas Vénus se perdem e se esgotam e se afogam durante o banho enquanto fogem das margens onde os poetas predadores vigiam, gritantes e desesperantes
Poiesis persiste através de poemas insolúveis
os poetas criam a urgência e sofrem a urgência 
de fazer sinais, consumir sinais

muito futuramente, imaginamos Poiesis atingindo o Poema-Planalto onde-por-onde
o Desejo entra na órbita dos sinais do Amor  

o Amor é uma Abstração do jardim que oferece a hora vazia e o lugar vazio: um templo mais sagrado do que viver e morrer
o Amor é a Construção do jardim: um templo de corpos humanos em paz, o refúgio que protege o invisível e o véu que protege o intangível

Vénus desenha um triângulo e um círculo no seu diário, dentro do seu silêncio próprio de dobrar e desdobrar o tempo mais interior do que respirar

o Amor liberta a harpa gratuita, dentro do silêncio: um segredo absoluto floresce:
o quarto próprio e a túnica própria