sobre a Natalidade da Poesia e o Renascimento
da Mulher-em-Versos
No princípio, era o espanto. Um animal inquieto, uma
vida sem verbo.
Na primeira manhã do mundo e da vida sem verbo, somos
o animal inquieto que encontra Algo, em vez de Nada. Acontece um nexo íntimo com
ser
E assim começa a estória possíveis dos deuses tácteis,
dentro do Espanto de nascer. Imagino os deuses a dizer Poesia sobre o Mundo. E aí
o Mundo acontece como Poema que cresce dentro de cada corpo e de cada astro
rumo ao Indefinido – táctil? possível?
No princípio, era absolutamente Espanto, o meu verbo
sem nome, animal exclamativo e expectante de nexos de sentidos com ondulações
de tempo
E o espanto procurava nomes com verbos para dizer a
sua ondulação táctil pela exclamação originária. As palavras têm corpo de vento
e quando sopram livres podem abrir tão fundo todos os ventos e todos os corpos
que não sabemos quanto renascemos em cada palavra
E a vida de uma mulher refaz o Princípio, com suas órbitas
de astros e nexos de corpos. Imagino os deuses a dizer Poesia sobre a Mulher
E
a Mulher acontece como Poema que cresce através da ondulação táctil dos nomes e
dos verbos que sopram livres na boca do espanto, tão fundo que não sabemos se a
Mulher é o Princípio natal do mundo ou o Poema da língua inteira que diz, exclamativa
e expectante: Onde a flor da pele? Onde arde, pétala após pétala, a flor da pele?
Onde sopra a Origem da Lua Nova? Onde se acende meu útero tão pleno tão vago? Onde
dói o moinho do pão, da lágrima, da loucura, do êxtase? Onde toca o Indefinido
na Boca? Que significa dizer, beijar, morder o Mundo no meu corpo? Fala a Mulher-em-Versos,
desdobrando o corpo e seus nexos de sentido, desdobrando e tecendo a intimidade
táctil com o mistério Indefinido de nascer e morrer sempre
Faz sol e lua e sombra
na mesma boca,
sempre ardendo mais do que verbos
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