Monday, October 7, 2024

Dizer-me e Contradizer-me na Canção de Amor

 


eu sou o círculo-quadrado que se diz e se contradiz no esforço de existir desde a Primeira Noite, desde a infância do primeiro espanto à superfície da minha face, no espelho e na voz ainda sem palavra, em obscuridade ou penumbra, quando a Criação ainda não imaginava a possibilidade de estrelas... 
o meu círculo-quadrado move-se com a energia explosiva de um incerto tormento amoroso, um vento de tempestade amorosa no sangue, uma ignorância da paz original: o regresso ao Primeiro Motor Imóvel onde o Infinito repousa ofegante... 

Um êxtase-horror pode definir este vento interior que quer dizer e contradizer a carne mortal de amar neste mundo sempre no fim? 
Cada poema é um círculo-quadrado que dá tudo gratuitamente, boca-a-boca, gramática de toda a língua possível: palavra pré-natal e palavra póstuma

eu sou o círculo-quadrado que, pela sua loucura própria, não pode ser pensado nem gerado nem nutrido. 

Sou nas veias do círculo-quadrado: processo de Desejar a primeira Canção de Amor, necessária e impossível, como o Princípio Absoluto que promete chegar gratuitamente

Sou a navegação lenta nas veias do círculo-quadrado: processo de uma vertigem dentro de Desejar: processo de lamentar a Canção de Amor nos vértices do círculo-quadrado, tanto ruído e tanto silêncio e tanta música na guerra dos textos quentes, ilegíveis, de carne e sangue e de vento de tempestade 

a Canção que sabe principiar e que sabe perdurar e que sabe não-concluir (através uma solidão noturna) respirando dentro de água, depois rocha, depois fogo e a esperança atormentada de fome dentro dos enigmas... 

tudo sensível, tudo capaz de sangrar a qualquer instante, sob qualquer afeto, gratuitamente


PS: a noite é a travessia da sombra, não a destruição do Sol... para desatar os nós do peito, trocamos as mãos e as suas frases de silêncio começam, descomeçam, recomeçam a carícia mais íntima que projeta o corpo para outra síntese onde os enigmas sensíveis brilham como se abruptamente: um relâmpago de açúcar queimasse a língua, demoradamente, entre a meia-noite e a aurora 

PPS: a noite é a passagem deslumbrada pela sombra do mundo e os viajantes da noite produzem e experimentam outros sistemas singulares de iluminação, auto-invenção de luz e sombra com os corpos vivos ... por isso, a juventude gosta de atravessar a noite em movimento sem direção, como dançar contra a sabedoria do sono... 

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