Quantas vezes
o mundo começa e acaba?
Quantas vezes
alucino e deliro
aqui?
Quantas vezes
tudo é dor
no corpo exausto
entre as rochas de granito?
Quantas vezes
caio e escorrego e caio?
Quantas vezes se repetem as quedas?
Quantas vezes o ritmo das quedas é maior que eu
maior que todos os ritmos quebrados da minha manhã?
Quantas vezes as manhãs são trevas para o meu corpo sem olhos
trevas mais confusas
do que as noites?
Quantas vezes é indiscernível o chão e o medo?
Quantas vezes se repetem as quedas
antes de ser capaz de compreender o espaço
para erguer-me e mover-me?
Quantas vezes
Tu és mais verdade do que eu-para-mim?
Quantas vezes
os meus sonhos são mais coerentes do que os meus sentidos?
Quantas vezes exclamo a liberdade de imaginar
outro corpo mais capaz de mim?
Quantas vezes me aceito e me rebelo e me mato?
Muitas vezes em cada instante.
Muitas vezes duvido de Tudo
na paixão de querer tanto
no desequilíbrio deste corpo exausto e cego
contra as rochas contra as rosas contra o ruído das ruínas
contra o riso da esperança e seu diamante mais fundo
contra as trevas que sobem ainda esta manhã
contra os relâmpagos de trevas que fendem ainda o peito do Meio-Dia
contra as rochas que rolam na minha raiva-de-cair
Muitas vezes em cada instante
transpiro meu amor de mulher voadora
Muitas vezes
água e sangue em cada instante fazem os líquidos do corpo
fazem o corpo líquido púrpura que me escorre
sofro a paixão-de-Tudo e a paixão-por-Tudo
dói tanto Tudo o que existe
carne vermelha
Muitas vezes em cada instante
cada instante no seu infinito sou esta arritmia
infinitos ritmos de sofrer o tempo
ritmos de rochas e rosas roendo como tambores no tórax
fraturam as vértebras dorsais
desfazem o esterno e o arco do peito
quebram as costelas que protegem os meus combustíveis
meus pulmões ardentes meus projetos ofegantes
meus impulsos sangrentos de navegar
Quantas vezes começa e acaba
no mesmo instante
a coragem de nascer
a coragem de criar?
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