Monday, April 18, 2016

Imaginar a Página

Manhã. Imagino a mulher e a sua página.
Um vazio quente sobre o peito imagina a página, a mulher, a manhã.
O dia explode lentamente na pele e a sua explosão alastra pelas fibras do corpo.
Acontece o Mundo e Tudo, sem absoluto. A mulher trabalha a página.

Tarde. Imagino a mulher e a sua página.
Um vazio navegante desenrolando sobre o peito uma linha de espuma.
O dia sobe e agita o Mundo e Tudo com a sua alegria líquida de correr. 
A fonte acontece sempre, sem absoluto. A mulher trabalha a página.
   
Noite. Imagino a mulher e a sua página.
Um vazio, dentro das mãos, junto ao fogo interrogativo, sobre o peito, imagina.
Noite, escritora, acontece sempre, Além-Mundo, Além-Tudo, sem absoluto. 
Somente círculos inquietos fazem arcos com tanta sombra quanta luz. 
Os lábios acontecem sempre, acontecem e tocam a pele inteira, Onde.
E a pele acontece, tanta sombra quanta luz, sobre os lábios da página Onde.
A mulher trabalha as fibras noturnas com silêncio novo. Atinge o Cântico a página.
Uma flecha de vazio quente lança a mulher sobre o coração de fogo do Cântico. 

A Noite, escritora, imagina a mulher e a sua flecha sobre o peito da página, 
através das fibras do peito até à plenitude dos tempos. A noite imagina. Acontece. 
O útero ardente de Deus, na paixão dos Possíveis, antes de Criar o Princípio. Alpha.
A paixão atinge a flecha. Imagina Noite. Estridências, silêncios, lábios tocantes.
A mulher trabalha a página com elipses, parábolas, danças. 

A Noite escreve na paixão dos Possíveis. Pede Desejos, pede Astros. 
Porque os olhos fervem, com quanta luz tanta sombra, Dia-a-Dia. 
Uma ausência, sem absoluto, atinge o vector da flecha, a mulher da espuma.
Acontece exatamente Onde. Imagina.

Noite imagina nexos, plexos, textos, sobre o peito, o acontecimento da página.
Imagina amar. E ama na página a esperança do Princípio, ou a linha da esperança, 
por Onde atingir a espuma da fonte. 

Porque somos a Origem quebrada que trabalha sempre Onde
na página do peito. Porque somos o livro impossível Onde. Uma flecha 
sem absoluto lança o coração para o vazio da página. Imagina álcool
nos Desejos
nos Astros, pedindo, orando, Além-Deus, como se Haver pudesse 
mais do que Haver.
Porque escrever o sentido da fonte sobre o disperso areal, sem absoluto. 
Porque Onde
reunir a mulher na espuma dos lábios tocantes, quase atingir 
a flecha, sem vector íntimo,
senão uma ausência exatamente Aqui, neste ponto, 
sem linha absoluta. 
Somente como se. 
Imagina. Acontece. Fibras de mulher na fonte da página 
trabalha o Mundo e Tudo.

Uma mulher senta-se no chão. O corpo desenha e escreve. A boca tacteia nas nuvens.



Thursday, April 14, 2016

A Ideia de Primavera Eterna

Uma mulher senta-se no chão. O corpo desenha e escreve. A boca tacteia nas nuvens.