Saturday, December 22, 2012

Labyrinthus 7

Menina, virgem, me vim de meu Arquipélago para esta Babilónia, no coração do deserto.






o meu corpo é uma combustão contínua. foi construído para temperaturas vulcânicas. ou cisões. até nada. fisicamente nada. indo da pedra ao vapor. numa borboleta.
eu seria a hora do desejo   o útero em chamas de tudo
de tudo o que grita no deserto oceânico. 
eu seria até nada. através. ponto e nó. ponto e nó. através. sem linha.

Labyrinthus 6

Esconde tempo na derme do poema. Talvez língua. Tua.





Absolutos vitais. nada se resolve, tudo se expande em oscilações vibratórias.

 exclamo-te. livremente. Dizes-me fogo que flutua. dizes o fogo é o tempo.
talvez maior do que a pele. língua de êxtase, língua de angústia, na minha boca, nos meus peixes de lava que passam neste arbusto onde adormece a primavera de leite e mel, onde começa outra viagem antes do cântico. Tremo no deserto desde a ideia de aurora. Submersa no orvalho, sou um fio de saliva sem lábios para onde.

Toca-me no vértice de caos, bebe meu sumo abissal de frutos inflamáveis.

Labyrinthus 5

Menina, virgem, me vim de meu Arquipélago para esta Babilónia, no coração do deserto.






Regresso tanto ao lugar de tanto.
havia pedras do caminho na derme trespassada
os olhos flutuam desamparados entre esquecer e falar.

a língua vai sempre às sílabas dos meandros. o delírio cintila com as mãos nos seios. Ambos frágeis, escrevendo sob ameaça de queda, mergulhando no carvão dos verbos. somos o jardim perdido cercado pelo fogo. 

Quase tudo sobe quando arde
regresso nevoeiro sobre a pele
nada de cinza na boca
tudo arde sobre tudo.

dizes o fogo. o maior desde que há dor na linguagem. Alguém sopra e sofre noite. fazemos rios, desaguamos mares e dizemos viagens de jangadas para perder o longe.
agora atamos os corpos como troncos. recomeçamos. não sabemos remar. ondulamos.
aprenderemos. as águas sobem. são labaredas de fogo. Dizes. sofrer assim é outro fio na mão, sangrando. Outro bordado, outro vestido de noiva. esperando nas margens do naufrágio

a tua fala é uma órbita de luas novas. dizes-me fogo com a minha língua.

Labyrinthus 4

dói-me a noite e a não-noite de quase sem sangue cair, quase cinza extinta.  

um dia começarei capaz de unir a hora ao frágil seio que questiona dentro de zero.
uma manhã sofro há tanto, o texto cresce neste útero que rasteja contra o sol Absoluto. sofro tanta manhã há tanto que não sei se ainda sou a palavra do coração pesado
ou se as pedras falam por mim de outro chão mais ardente. Atinjo a fonte do caçador, persigo-me violentamente com colapsos de vogais desconhecidas na minha boca lunar.



Regresso tanto. os olhos flutuam esquecem onde e quando somos.
aproximo eternamente as primeiras questões e os primeiros incêndios 
regresso ao sabor da pele para ler a língua. leio-me desamparada. na tua ânsia de. Intensamente perder os sentidos. aqui vêm nadar as mãos que duram mais do que o rio

e as águas passadas e os infinitos moinhos que se erguem para cantar o instante
de uma vertigem inflamável azul. sinto uma febre definitiva no nosso barco.
a língua vai sempre às sílabas dos meandros. o delírio cintila com as mãos nos seios.

Ambos frágeis, escrevendo sob ameaça de queda, mergulhando no carvão dos verbos. somos o jardim perdido cercado pelo fogo. 

quase tudo sobe quando arde
regresso nevoeiro sobre a pele
nada de cinza na boca

tudo arde sobre tudo.

Labyrinthus 3

Esconde tempo na derme do poema. Talvez língua. Tua.

 

Haverá sempre vertigens nas águas passadas e nos infinitos moinhos que passam e que não passam de passar até que boca diga boca em vogais que dormem e não dormem
sobre a praia ou o jardim da pele. todas as águas falam de orquídeas. a sua deflagração desde a raiz. Bebe-me ou lambe-me a ferida no vértice de Nunca. esse oculto vértice das trevas dos silêncios dos vazios Onde nós tão sós atingimos o texto que rasga o corpo. a dor que chama tudo e difere de tudo. um enigma com espuma de pétalas e espuma de pássaros e um grito de homem submerso que vem do meu Arquipélago.

Labyrinthus 2


Esconde tempo na derme do poema. Talvez língua. Tua.


Desdobra os dedos no abdómen, talvez alfabeto de abismo. Teu. Desenha-me de onde e porquê, teus dedos, no meu labirinto. Também humidade incandescente na mão de mar lento, tua. As ondas sobem até ao último planalto


Tudo arde sobre a pele e a pele sobre tudo. As pétalas ardem inteiras. Oscilo.

Quase tudo o que arde cura. Bebo labaredas de êxtase e angústia, neste cavalo.


Aprendo as tuas línguas de fogo, mastigo o sol nas pétalas da flor da vertigem.

Quase caio contra o fundo da onda que recua. Sou horror de vácuo e respiro.

Labyrinthus 1


Meu labirinto abre a boca. 
O sol do Oceano bebe-me, deflagra-me: aqui. Rasgo-me, fibra de texto.
Cada verso fura um corredor uma parede um impasse no Labirinto. Sou mais feroz aqui.
Faço-me e desfaço-me na língua que levanta o meu Labirinto. Agito-me no princípio.
Sou unidade do meio-dia-meia-noite no meu corpo sem Sinal de grito, somente espuma.
O vermelho da língua ferve. O azul do longe ferve. O teu punhal de trevas nuas ferve.

A minha pele tende para o limite: toca mais infinito e menos infinito. De tanto ferver vem vapor.

Sunday, December 16, 2012

desire at terminal breath

we must return to fire where plunging into language begins. give me your mouth, now. I need your trembling silent mouth now. I must plunge into the last verb of my bones, muttering bones. desire. holy desire, you shall touch and be touched, for we are approaching understanding. we converge while plunging, for love is a well in the desert, the last well before the infinity of nothing. and now is the poem that was missing. flesh lives on flesh, we are the ferocious, the voracious urgency.
desire from desire, layers of skin making circles around fire.
this hour has still birds awaiting your speechless hunting in the forest where the moon appears alone like the final text of waters. it's raining on the breasts, everywhere.
there is a dark flash in the house, our clothes sleep on the floor, our doors merge with the dunes over the page of skin. evidence overflows, speaks of loss all night. it was me, in need of fruit.
and moon encloses the minutest silence, before fusion at high sea. the womb is in confusion and my vacuum echoes submersed, for there are layers of skin everywhere, approaching understanding and the call of fire, seven times seventy. your mouth still missing. extremely naked, never warm enough, questioning zero.
 my burning desert desires half moon, grows unsolved. my Absolute. 



Thursday, December 6, 2012

Eros & Exodus

a cena esvazia-se, a aurora desmorona-se... Eros é condenado aos grilhões na caverna. a solidão cerca a circunferência Feminina da luz absoluta, perdida em Exodus. um íntimo labirinto infinito subterrâneo ou subcutâneo: somos. na feminina circunferência da caverna dos grilhões, somos condenados ao infinito perder-se. no chão cai a boca quebrada e bebemos as mãos de lama no abdómen de lama, como no princípio.
a cena esvazia-se, a aurora desmorona-se... somos a caverna onde dorme o sol de perder-se. as rochas transpiram de ânsias nossas, desfazem-se em lamas no chão. bebemos, como no princípio as lamas absolutamente germinativas. somos o útero da aurora, as sementes que mudam a pele.

a cena esvazia-se, a aurora rompe-se. estamos sós na caverna, mudando de pele com tanta fricção rochosa.  vibramos violoncelos de melancolia e êxtase na caverna donde vem o princípio desnudo da vertigem.

Sinto-me tensa e aérea, sou dentro do clarão o Instante de Vapor. renasço do abismo de Eros contra Eros, re-iludida com a carícia nos cabelos e o horror do vácuo na raiz da pele.
hiberno e mudo de pele todas as noites, intermitente como a respiração cortada pela incompreensão exaltada pelo esgotamento de tanta pele desmedida, tanta pele abrupta de urgência e avidez. despir-me no ar, jogando o pânico dos naufrágios: Eros contra Eros, atmosfera de flechas e sangue...   


Wednesday, December 5, 2012

woman unfolded

the scene empties, the dawn breaks.

she drinks mud till no longer able. 
Eros is here the master of tragedy.


Eros - deus invictus

you are invencible in every fight. the master of explosion. I recall silence always made out of flesh.

Here. Eros is. why. no battle without my vessels in flames and my erring bodies that cannot escape surrender.
I surrender to your coming foot, pondering madness for the entire stream of mine.

the veil alone makes blind the Whole.
drink my impossibility of a stairway to the sea. 
I do not know if I breathe or not, if I touch or not the wave. the true wave where the abysmal conflagration embraces the Instant of blown flesh on earth.

Flames burn flames themselves here. Eros is. why.

We taste the tongue of It. overflowing. as waters of revenge raining within veins against darkness, against fear. 
Eros stirs the Whole. drink uprooting fires of all hours. still lips. and petals. fading in song. at pains.

I cannot but tremble amongst spears and melodic sighs. 
the heart evolves from night to night. through a secret train and channels. undergroung with snow and inward struggle.

Love is not a native land but broken tongues absorbing an interval of fire. Eros is. why. beasts bark intimate. Eros is the speed of mystery and birds. 

Eros I scream wider than life.



Tuesday, December 4, 2012

untold beforehand


lips kiss and bleed.

no single word.  language trembling.


here two lips

Here two lips, at least two, lay ground for poetry of young fruits.
I revolve around Thee, longer than burial of stars, longer than real Me, when tears and kisses merge afresh. Here two lips bleed while kiss, as though eyes were burning through the ferocity of not-ashes... two lips, red skin of fruits, to devour all I whisper, all I tie with saliva to offer Thee, entirely, First Moon.

My throat weeps much deeper than myself, much freer than the songs of myself. 
Two lips. Here, tangible line from breasts to springs, It marks our bottomless symbols. 
I exist in your forgetting the troubled midnight where I weave, weave the gleams and rivers of at least two lips, unspoken. 
I insist on possible pasts and potential futures, and the tongue overflows bittersweet. Lips show humidity, bittersweet. in the breaking of dawns, I am the broken trunk that despairs of you. and the rains are we, and the snows are we. on the mouth, I write the tongue to nourish Eros while oceans and I perish, trail of electric debris...
If I could despair of you over the breasts where the fable begins or over the shores where the threads of beginings tirelessly do and undo my layers of skin...

two lips again at least, two always at least, nameless power anchored in Here. I know the rhythm of It. I have no word to dance It. I speak to the flesh while lips bleed so dreamily, as though kissing and hurting Infinity. 



Monday, December 3, 2012

lábio inferior


Dizer hoje que o lábio inferior caiu sobre um outro sentido do espaço vazio. Dizer que alucino hoje uma era primitiva sem queda do lábio inferior para o silêncio circular do meu caos. Dizer que poderia criar outros lábios de outra carne mais íntima do fogo, porque só o fogo acalma a minha floresta verde. Dizer que morder o lábio é o outro beijo, antes e depois da tempestade. Dizer não posso agora. Tenho a boca contra a pele incandescente do caos que vem com outros ventos adversos, sob a pele. Desdigo tudo o que carece da saliva que humedece o lábio inferior. E bebo aquele salmo descrente em que o louco diz "Não há nada dentro do vento, apenas fúria".
Ainda não disse hoje que te amo, porque a minha gramática do verbo amar não autoriza tempo, nem espaço, nem modo; somente um romper bruto de aurora no meio dos lábios até ao cerne de arder. Tudo o que arde cura. Tudo o que ama arde. Tudo o que ama cura. E a floresta desdiz o húmus com bandos de aves de Ânsias e de Elipses...
O caminho tropeça nos pés e as pedras correm para lava, se digo hoje que recomeço da boca, o vermelho do lábio inferior, sangrando de nada.

Sunday, December 2, 2012

lábios

dois lábios sempre, pelo menos dois

aprendo ou desaprendo sempre o caminho e a pedra no meio do caminho onde somente não sei.

a linguagem de tocar ambos lábios com outra língua mais líquida do que eu e não-eu.