Thursday, August 23, 2012

mulher

uma mulher ígnea numa varanda sobre a alegria. ondulante como mar. e tu dentro. 
o mar bate na aflição dos amantes abraçados como náufragos. e tu também dentro.

debruçada sobre o ínfimo instante de perder a guerra, perder sempre, contra o Mistério que tanto corta e tanto dói. 

há coisas brutas nas minhas folhas que não podem falar, secam a língua de areias sem regresso. a pedra enrola a pedra no corpo que desdobra o caminho... os monstros são obscuramente exactos como mapas do interior. 

somos as trevas do caminho de lava e escorremos ardentes sobre o princípio do mundo. 

vivo no intervalo das intensidades extremas. por ti. perco a guerra, perco o sentido, ganho a semente de jamais. acontecemos. através das paredes do útero contínuo. 

sou o esforço de gerar e nascer. não sei ainda dizer a palavra. 
aconteço mulher que infinitamente dobra sol na lua. vivo no eclipse da semente 
dentro da semente dentro da semente do meu útero que bate os segundos da Expectação. como se amanhã todo o texto fosse tempo de cantar. 

somos a possível passagem interior, boca-a-boca. como se o amor fosse. 
acontecemos chuva a despir a argila que somos e não somos. 

naked fiction

only hunger. hunger translates your body into mine. future rock of verses. the new self moves words from flesh to flesh. dust of fire burns between verbs and nerves. I long for your liquids. flowing in the landscape of angst. angst under silence. I believe in madness, ante, post. skin in ways my new self knows not.


this is the circle of hunger. anonymous first hopes. yelling my future adolescence. you breathe my metaphor. one second before explodind. letters float around climax. 

your mouth opens. my fingers sink. this love cuts the fruit and the core of the fruit. 

eros & poema

um coração é um abismo na montanha de outro coração. quem bebe as rochas aqui, no fundo de ninguém? sou hoje todas as sedes futuras a gemer na raiz. 

Tuesday, August 14, 2012

duas sílabas no ar

o sonho bate duas sílabas no ar. de que palavra ou vertigem? vê como bate como desmaia como sustém a palavra quebrada. aqui bate a asa no azul, contra os nós de azul no Inteiro, grávido de fumo e frutos de fumo e noites de frutos de fumo. esquecemos desvelar a frase no centro das duas sílabas que dobram o mundo, o vazio do mundo, o eco do vazio do mundo. entre nós, num abraço de naufrágio. uma ideia de naufragar numa espiral que se apaga na frase nocturna que não vem. dobrámos a terra da tempestade e somos tudo o que as luas inventam, entre azul e púrpura. ligamos as veias para aprender e esquecer os caminhos onde a alma é toda de corpo e espuma. as veias no limiar de outra matéria capaz de morder absolutamente outra boca. somos aqui no princípio. a curva do espaço onde a elipse nos reúne para nascer outro sol, descentrando a órbita de Amar sobre Devir.   

alba diagnosed

alba before me. 
all strata and mysteries of blue symbols. 
we were a long night phrase. moons have no mercy upon us. 

love is labor with Logos surprising Poiesis. and darkness creates Sophia with rage and streams fleeing to the sea. you shall not cover your breasts. all possible nudes dance on purple hours of awe.

cover, cover all over. need not tides and gulls in panic. looking for the signal, the savior. nine months, nine after the despair of never. 
we love and float, terrified by that boiling blood altering the nodes of relentless syllables. 

we echo Golgotha, knowing how, not knowing if. 

terrified again, begging in full misery. 
if you do not love me I shall not be loved. terrified again. the nonsense of not loving, not loving, not loving. nonsense endures heavy bones of absence.
the absence is the same, thread and node of flesh and sand. the space opens and shuts your breasts, your rains, on me, on my door, threshold of life shifting into mist. or receding into your last tide. high in the dunes. we sink terrified again. loving, not loving. 

I might be dead now. and your rain would persist. on me, without curing our terror. raining are we begging. excruciating syllables, suddenly unveiling rays of something, there, out there, somewhere.

a last saying rises through the whole globe of our breasts, silence set aflame by life. as if necessarily. 
a far cry again. a far. rises away.
if I do not love you I shall not love again. unless folly. but I whisper again the end of my word. what is the Word. it all boils and melts and rains. there is no language to cease this fall from last times.

Monday, August 13, 2012

errar

restam os ramos em nós. erramos. antes e depois das chamas. erramos altos, nutridos de chamas que ainda perfuram os olhos dos amores inacabados... 

na ruína do suspenso há inquietude. um tudo de nada de tudo no equador. na temperatura errada. equinócio perpétuo para fiar à noite e desfiar de dia, os cabelos rasos de injetar-Te-Me...

cadeias nos pés e nas mãos. ramos de um ao outro nas chamas cruzadas. somos carnívoros de angústia vermelha. comemos ainda em sangue a sua melhor carne. que somos...

... animais carnívoros devoram-se. desfazem-se recíprocos no vazio voraz da vertigem. não tenhas medo, diz a menina ao lobo, como-te enquanto danço, muito nua. e o lobo e a alcateia são a hipnose de um tudo de nada de Excesso... 

a madrugada é o chão onde se aprende o corpo-a-corpo. aí se começa. aí não se acaba. e sempre se interrompe a insónia e o sonho. aves gritam absolutamente...

estamos na queda encadeados. somos os ferros em brasa da prisão-madrugada. evade-se vapor de metamorfose. seremos Outra obscuridade sem matéria...

a energia desenha formas nas aves que gritam absolutamente o Limite fulminante. a densidade de Alfa e Ómega. no princípio. paira um vento de sinais. lemos o possível todo na Origem impenetrável... 

mas o amor (?), os círculos concêntricos que se fundem no silêncio branco de todas as melodias futuras possíveis. mas o amor (?), a escrita de apagamento. porque escrevo-Te-Me para apagar todos nos sinais num anel invisível de veias... 

conhecemos os textos de rasgar. porque esquecer há que salva o sonho que sonha o sonhador, que salva o desejo que deseja o desejante, que salva a salvação do salvador esquecido de si e da perda de tudo...

escrever apagando, somos. tanto esforço contra pedra nos ossos. pesamos. somos acréscimo de ser no limite. íngreme escarpa sobre nada. resta a febre dos ramos. mas o amor (?), bate-se ou Não. contra a interrupção que paira sobre os aparelhos respiratórios do incêndio. conjunto, disjunto...

o amor bate infinitamente, enquanto é Quando e Onde e Porquê.

chained

chained are we. branches perspire without fists. you fight against you. you exercise nothing. strength wasted with gentle fire. nonsense makes love furiously. green nonsense and purple kiss. we are jaws devoring our forests of newborn flesh.  

chains break flames and times into blasts of powerless arms. nonsense dances to the rhythm of iron strokes. chained we grow vaster sweeter easier than moonlights.   

Sunday, August 12, 2012

tronco

o tronco sobe até florir, explode no fruto e semeia, ao cair.

intervalo de ar. vivo nas fontes das copas mais altas.
uma loucura azul por dia. vivo rubro.
ou um dia por loucura azul possível.
lágrimas de festa nos ramos.

fabulous flight

garlands of furies and days. we gravitate and grow.
words kiss and bite the terminal florescence.

where is the knot on the rock on the fruit on the mouth? 
where is it, my tree? cannot know, unless the order of whirlwind falls into my net of appalling stones of chagrin. 

I quit the stormy landscape of my boiling skin, or Not. 

the sacrifice flows like hungry, thirsty, anxious, forests of hearts entering my fears... the bottom of craving sets the veins of air aflame. my fever, my appetite of assault makes roots and trunks and crowns pierce the rock... 

we suck the juice of ruins until dawn. this is the final knot in the air. Love you, red stone vein.   

Saturday, August 11, 2012

sentimento oceânico

 
na floresta de corais e algas, a Menina do Mar é o Mundo no seu Instante de fluxão curva de ser sobre ser. pesas menos de zero. somos aquém de sombra, a corrente fria que tende para além de luz. afundam-se as noites no singular júbilo.
no Indefinido se define a claridade. bebes-me vaga.

o teu Mistério me prende mais tenso, por acréscimo de Obscuro. infinito desnudar-se ondula novo, mais nunca, tendendo para mim sobre mim. o limite move sempre mais o princípio para o infinito. ser nua e longínqua infinita-se. fluxão curva que reflui ser sobre ser. sem choro nem riso. apenas concha. 

derramas-me desconexa e desnucleada sobre as correntes mais áridas e redondas do Interior. o Oceano é sem ângulo e sem superfície, somente um coração ainda ignorante de si próprio, no Extremo de uma fala tocante. donde o Desejo deseja a potência Desejante. sem choro nem riso, transbordo de ferida e de fascínio, pela vertente do futuro.

a Menina inclina a paixão sobre o abandono e a memória de um canto maternal. as fúrias do princípio sem memória desfazem a força. sinto-me incapaz de uma travessia pelo fundo. uma apneia que impele para absolutamente Todo-o-possível.
ainda desconhecemos a Forma interior de sentir uma exalação ilimitada que comunica o símbolo carente, sem conceito nem imagem. 

o Desejo sem objeto é a força indeterminável em nós de Todo-o-possível. ímpeto que faz sangrar nada em Tudo, somos absolutamente. vibração somente e melodia átona de corpo refeito onda, fibra por fibra. o Desejo sabe-me, sabe-te, por dentro das correntes. engana nada, nunca, ninguém. faz e desfaz de súbito, a forma da verdade fulminante. 

se ardes em apneia, és um ato oceânico, no fundo. 

Friday, August 10, 2012

climbing

podes subir o mundo todo, assim tocarás o fundo fugitivo, no inverso, que é o mesmo do contrário ao espelho.
se quebrares o espelho, o mundo permanece inteiro ao modo da luz e da treva, exterior ao teu corpo. porque o fundo não fica no mundo nem no corpo, não se toca no cristal do espelho nem no cristal da carne. o fundo é o exercício infinito de dobrar e desdobrar as sensações na língua e a língua nas matérias. mas a língua é apenas um lugar possível para concentrarmos o sentir infinito no vértice finito da planície ilusória de aqui. o espaço uno do real possível é Outra Inteligência a sentir o Todo Co-Construído e Co-Existente no instante obscuro. o instante pode fluir ou reter infinitamente, nada se altera no Mistério onde o Mesmo e o Outro passam pelo contrário frente ao espelho, penetrando-se de mais luz a contra-luz e de mais treva a contra-treva. avançar é adentrar-se, dobrar e desdobrar o espelho sobre o cristal da carne que começa, no fundo, subindo o topo do mundo. que começa, no fundo, a cobrir o mundo como uma densa atmosfera. onde a temperatura ataca as pedras, para lava, para vapor. e finalmente, respiramos o vapor do mundo e somos o Todo entre a boca e os pulmões. densidade de ar incendiário, vaporizando a matéria em Uno instante. assim, penso nas despedidas sem regresso como uma navegação invertida, que é o Contrário de Mim a quebrar o espelho entre a derme e os órgãos. aí se injetou o fundo fugitivo, o teu corpo submerso na Ideia de exílio, sem canais navegáveis, de onde, para onde. atravessar aqui o Inverso é quebrar-me, que é o mesmo de reunir-me, adormecendo nua sobre o espelho do Contrário. 
escrevo para ti, sobre ti. uma manada de herbívoros confusos no deserto, um bando de aves migratórias confusas no deserto. escrevo para ti, sobre ti, que é o mesmo de escrever para mim, sobre mim. atacamos o fogo com fogo, encontramos mais rapidamente na cinza, plantando na cinza outro fundo mais fecundo para o mundo de chama e vapor que somos. somos um ínfimo instante de chama e vapor. nada está escrito. ainda não há língua nem sinal capaz de nós. nem tinta de sangue capaz de ser capaz de ser nós. rasga o texto, rasga os pés. fala daí, que é o mesmo daqui. Convergimos para o cristal onde o Todo é Uno. somos, aí, a invenção da matéria, enquanto os símbolos exaltam a loucura dos símbolos através de nós. a loucura expande o caudal do Sentido nascente. o tacto é o teatro originante da vida. mergulhar é preciso, mais fundo, mais dentro. onde arder será melhor do que arder. compreender-se é adentrar-se.    

Thursday, August 9, 2012

fragmento de chamar-Te

o texto da carícia é um cantar  de perda. tu.
tu és a face do inteiro espaço vazio. lábio.
o tempo retorna às folhas. tempo tenso. no lábio desfolhando-se. na minha cintura de árvore onde tu tanto. o cansaço alastra-se. eu sou mistura espumante de terra quente com álcool de desencontro. tu murmuras. eu canto no limite das copas incendiadas. o teu tronco. digo às forças tristes: que este vento se levante na boca e plante pássaros amanhã, no último dia do verso desfeito. hoje, serei a última vigília do sangue nascido para plantar pássaros amanhã. prometo-me agora amanhã. na tua argila húmida, no princípio, plantarei o meu fragmento de Chamar-Te. quando vens ?
quando choves ?

leaves before winds

on my stone threshold, your dire wild animals, your weary youth, run through the moment of desire...

this autumn begins in the shadows of self-denial and self-enjoyings... on the margin of nothing, you are the future burst and the future blast. 

at midnight the dragon rises and glows intensely.
I am the blood of the midnight dragon, its veins.

give me life, in regions of cry, virgin cry, outcast. 

warlike silence from the binding cliffs we burn 
bodies of lost female, nightly tents in passing, 
angels in disguise we disagree.

empty threshold of stones bleeding, voices and caverns.

while bliss rages against bliss. and nothing. 
  

Wednesday, August 8, 2012

Eros & Eris

you demand waters and fires. measure against measure. ever consumed ever consuming in surges of Same & Other. 
you know nothing of these bittersweet tongues that burn your mouth. wait the awakening swords stiring the Matter.

amor qua appetitus

sobe os degraus sem sombra. sobe e arde. tanto mais quanto mais. no clímax te afogas, de tão alto ser fundo.

desejo re-vem

bate à porta, bate à porta em mim,
bate-me com todas as mãos 
das tuas febres futuras de metamorfose
dos teus arcos infinitos sobre o meu corpo arenoso em quase deflagração entre muralhas

o universo paira sobre a nossa asa

(a metáfora prolifera nas margens da dor donde vem o canto donde re-vem o Desejo)

door

behind this door is a generated body with its herbs and flowers and furniture and beds and chambers. if you touch the wood of the door and you enter the garden of the generated body, you shall drink the redest wine flowing from Passions and Desires... and winds of flames consuming your wood... because you are the door. and the closure of the door. and if you do not drink the redest wine, you perish at once without a murmur. 

Now: explode the delusion consuming the power and making lamentation out of Delight.

Now: the last chant must be tears of the grape in the flesh. 

Now: go ahead anxious,  let your nerves tremble joyful, return not to the unknown. your hands naked and drunk of woe need more than life.  

Tuesday, August 7, 2012

dancing over morning

she plunges into another white pain in beams of Loss

she destroys the great harvest within the transgression of love

the singular idea of confining the heart to the realm of contradiction fructifies, while she pursues Nothing, desires Nothing, feels Everything.

Self-contradiction is an experiment with modes of self-understanding. It leads to Invention and Art, contrary to all streams of sweet foam.

she bathes in a Morning when Sun has no Method. silence fixes my Opake furies, she mumbles.

she opens the book under the terrible unutterable Name of Generation.

she dances Nonsense but true Absurd is the discourse by essence without the texture of a naked body. redeeming the Infinite from Finite and vice-versa.

she is the Space.

penumbra

a voz semeia o segredo na penumbra.

as noites atingem a mulher quebrada.

ninguém, alguém, tu. nasces dolorosa.

sei que somos a ilha remota onde a memória é um delta fervente de rios verticais que desaguam em cinza de beijo sob a língua muda. sei que somos aqui sem abrigo as labaredas nas margens do espanto. colhemos auroras na carne aflita. inundamos a boca  de serpentes e arco-íris. florescem espinhos. trememos a angústia de escurecer.

somos os animais todos buscando a órbita do alento, o sopro de fúria e ternura. aqui nos aquecemos com fricções sumárias contra as fontes primeiras.

não sabemos regressar. os mitos têm passagens que não queremos deglutir novamente. não quero recomeçar com os cavalos exaustos dos ciclos da paisagem. vamos adentro, sem recuar como a onda de flechas que ataca o coração com o cântico do mergulho mais fundo.

Monday, August 6, 2012

o texto táctil

a estória fulgura sobre vários estrados de lava arrefecida como fantasias incontroladas de Caos.

o amor começa-me entre clímax e desenlace, muito íngreme escarpado descaindo para imagens absolutas de Incognoscível.

rastejamos no poema de amor confessando desordem nas metáforas borbotantes.

os olhos a contra-luz resistimos e sucumbimos disjuntos
ao mínimo desespero as mãos quebram o cristal estéril das sílabas

adormecemos nos sinais ondulantes
somos a orla marítima da memória delirante

cegos com a linguagem latente da metamorfose abstrata.

um cântico de uma vogal só para salvar Tudo. somos o instante. clarão de argila.
entre o zénite e a raiz, imagino-Te em círculos concêntricos nas minhas águas mutiladas.

tenho a língua ácida de Indefinido, a pele ardente de Indefinido. germinamos um arco de mudez.
somos as árvores em êxtase. transbordamos aqui de trans.
somos a atmosfera deste incêndio do tempo.  

stella on the flor

she's love sick.

she coincides with waters
she masters my theories on cacti
she fires and blossoms. while ruins elaborate new wings for my legend.

her dawns are deeper landscapes of excess. deeper than tomorrow. gestures echo futures.

the story begins between climax and denouement. while voices fade in the text of sea and lament.
the tissue of life is an hypothesis in silence. she differs and weaves differently.

she eats roses and much panic before the body of the poem.
nakedness happens like vertigo from above. highly.

a catastrophe reverses possibly the belief in everything.
she awaits nothing but happens abruptly. undone.
needles of light and rock write her from nowhere.

she's love sick. look at her.
trembling on the floor like a star. 

Saturday, August 4, 2012

hipóteses de fuga


Aqui, fissura verde, também.
por onde? por mim mesma. haverá outras hipóteses de fuga?
eu sei que há. era eu a fazer-me de ignorante... fuga contínua através do enlace no vapor onde os cavalos todos mergulham na mesma respiração.

na exaltação das angústias abissais, estudámos todos os animais que uivam. Por caminhos abruptos, primitivos, onde os abraços de-em-mim-de-em-ti fazem sangue.
na flutuação do silêncio, o último amor lambe as feridas

na sensação de indomável perda, a lua crescente começa pequena, aumenta, dissimina, até doer e apertar as coisas gigantescas dentro. sempre houve de-em-mim-de-em-ti-
sempre houve. agora há mais ou demais ou mais do que espaço e tempo. exatamente.
preenchimento absoluto de vazio. absoluto. absolutamente enchente, esvaziante.

tudo porque o Todo, o Uno, tem o flanco calcinado de poentes com infinitos tons de púrpura asfixiante.
Dizer ainda, que ainda há e haverá para lá de Não. a escrita sobre a pele, vigilante. a escrita que traz água e pão, ponderando a espessura da noite. alguém tem pulmões ainda, alguém tem boca ainda. Apesar de sermos impérios milenares de colapsos, que esgotam as línguas, as literaturas. apesar das elegias serem a trama íntima da carne. Amar é desfazer os nós da trama, soltar os fios, inventar o vento que começa o diálogo com as aves.
O jardim vibrátil é a leitura. Sofremos no texto, amamos como feras. Cai a tarde, vem a manhã, Sétimo dia, deus dorme, eu ardo no jardim, incendeio das raízes às copas.
Procuro a infância dos verbos vivos nas veias inflamadas de tudo. Vens?

Friday, August 3, 2012

fissura verde

o medo de florir. o medo de demolir. o medo de abrir. o medo de partir. o medo de ferir. 
todos os medos soltam as âncoras na fome de tocar-Te.

quase nada sobrevive ao vento da ausência, na memória dos tactos. 
a respiração treme antes de aprender o canto. antes de elaborar a voz, antes. 
oscilamos, onde amanhece o pão que te ofereço. um súbito clarão dentro dos frutos. 
se me chamas, come o meu corpo despojado. 
antes de acender o Dia. antes do sinal desconhecido que começa a estória de assalto à floresta do peito onde sou para ti uma fissura verde que no deserto do meio-dia ainda sopra um remoinho com tons de púrpura e ópio. 
estamos no segredo, somos o segredo, a Oriente do Oriente, 
onde o amor é vapor de essências.



oscilamos onde amanhece o pão que te ofereço boca-a-boca antes de acender o Dia. no claustro do poema, cavamos um poço para beber a ressonância que vem do fundo. 


oscilamos. hesitamos entre as portas, mordemos as pedras com o desejo de fogo, vapor, fusão de Extremos nesta terra.  

emanation of Void

the burning naked beauty comes from clay. my mouth knows. pains descend from springs of life. in this furnace beyond all laws for or against flesh. clay in our tongues, the limit of crystal within love.
before this Ocean in flames I enter the shadow of the One in the spiral circle where. the Void becomes womb. I taste the morning under wild wings, fearing the fall. Yet I drink the veil and the bath, your skin passing the possibles through my cloudy lips.
fierce howlings, specters of despair, nightmares fold and unfold across the atmospheres.

at last the swords, the chariots and the muscles of war vanish.

love is a logical demonstration of trembling fibers.     

Thursday, August 2, 2012

jardim

do jardim nasce outro texto.
uma mulher aprende o delírio, sente o filho na lua de dentro.
enquanto o Mundo explode, ela dança e colapsa. diz Sol. enquanto o Mundo implode, ela colapsa e dança.

despe-se de longe, como se fosse eclipse de sol sobre sol.

as árvores cintilam com o alfabeto inteiro vibrando sobre a pele.

no ar escorre uma ideia de Infinito que aquece e arrefece na derme de longe. sinto o Infinito vibrátil,
desembarca na montanha e faz o leito desta estória.
somos o fio de água no centro de hoje, como o grão maduro no moinho, quase através de nada, mas rodando tanto.

contra o jardim, ataca a sensação visceral de um monstro fugitivo que vem beber até às linhas do horizonte. sinto o seu desejo de pó, enquanto Infinito descansa os olhos no fundo do mar.

nesta atmosfera de carências, faz-se e desfaz-se a madeira melódica do corpo: oscilam os ramos.
ninguém, alguém, tu, todo o texto colapsa e dança. a vertigem da passagem afunda a madeira verde do amor. toda a passagem quer regressar ao corpo. depois de longe, despe-se. a mulher nua vem do futuro.

lentamente o vento desenha a onda. sinto a força que desdobra a espuma na derme de longe, a tua derme ascendendo de dentro para os lábios. até queimar exatamente.
não tem geografia a cratera lunar que sonhei.

Wednesday, August 1, 2012

prophecy with preludium

0. overflowing pains shine after an hour of bliss,
1. the nameless cloud renews every night in your riverbed,
2. a female rose comes with a serpent against the infinite,
3. your furious dreams flee torments but embrace solitude

portas de mim

o dorso das aves
nasce
agora
debaixo da pedra onde os pés sobem até ao vértice da noite.

antes de ser angústia, rua estreita, onde o ventre ferido apaga o fogo com a boca, desfeita de Eterno.
tenebroso e tenro, cada amor tem seu degrau infinito.
o cavalo aquece no peito, revolve as brasas sob a pele,
onde.
a semente derrete o fundo, o ferro frio do fundo.

o silêncio pondera as mãos que atingem a cinza do beijo.
rezo por ti aos deuses que não há para recriarem o mundo que não houve aqui.
voas sem sombra de sede em sede, de fome em fome, de abismo em abismo...
colapsa o grande exílio em redor do longínquo florir.
se existisse, palpável, o teu ventre, a minha ponte para tocar o extremo.

derramas o teu grito quente sobre a minha ferida maior, primeira.
alto mar, alta noite.
o pranto no labirinto oculto, o pranto na órbita vazia, o pranto na raiz de agora.
não sei onde os canais húmidos da ausência atravessam
a montanha da alma, seus lagos, suas neves, seus arco-íris.

se fôssemos capazes, amantes capazes, essencialmente.
talvez a planície, em vez da vertigem.
talvez florescer, se fôssemos furiosamente sementes tacteando a ferida aberta.
no limite da carne.
ternuras e medos, numa vasta tempestade onde flutuamos
no flanco
da solidão
de um verbo
sem sombra.
foi.

o espanto respira as pedras.
todas as portas em mim respiram pedras.
encontro o vendaval no cântico Desejante de outros sóis mais delirantes.
Desejante é.
o animal do Extremo, todo voraz de fábula e metáfora.

cantar é preciso.
porque sim, morrer não pode.
sofrer de cantar Desejante.
dois ou três hemisférios por dia, quase sempre
no princípio, no rigor explosivo do princípio.
a essência de navegar.

ser o sangue das palavras densas.
amanhecer junto ao vulcão desta ilha futura que se aproxima
pelo lado da aflição, com bandos, cardumes, alcateias... as feras
da alegoria do Fim
as feras perseguem a rosa, a mulher.
persigo-me,
sou a mulher do poema Desejante.
não sei nada de quase tudo.

amo-te, neste diálogo com terra, na saliva, na lágrima, no suor de não cessar.
em segredo, devoram-se ferozes ruídos contra as alturas,
descobrem feridas do lado abismal de uivar.

tudo é triste no crepúsculo. é preciso cantar, porque sim, absolutamente, contra as pedras.

mergulhamos nos pássaros a boca de argila,
derrama-se o desencontro como ácido,
ardemos antes de mais nada.

se fôssemos chuvas no verão,
teriam garras as pupilas até morrer.
navegar a insónia é preciso,
como ninguém, sobre a jangada dos troncos amarrados de Novo,
desde o dia de argila.

atravessar a fala que não dorme,
de tanto não esquecer.

carícia,
no verso, no cabelo, na sílaba
mais dura
de cristal
com-porquê ou sem-porquê.
se a tua voz, teu hálito, quebra cristal.
talvez o cerne do tempo se desdobre nos confins.