Tuesday, November 30, 2010

o bom sonhador


o bom sonhador não acorda nunca

sonha de sol a sol e de lua a lua com mãos de fogo de amanhã

sonha todo o rio do futuro nos declives e nos seios dos frutos

na derme mais funda há microssensores para a desintegração de Nada na Corrente dos símbolos que confundem o desejo com a rocha e a sombra móvel da rocha. Os nomes dos mares também têm seus pássaros e cavalos e a geografia dos círculos abertos.

Tocar-Te será Outro Desejo: uma floresta de clamores com suas rotações entre a mão e a língua. Inversões de ar oblíquo contra Nada. A obscura árvore cai sobre o corpo inicial. Os relâmpagos deveriam subir, de ferida em ferida, até aos astros de onde vem o Inteiro.

Tuesday, November 23, 2010

indo

o dia é possível - em que o sol atravessa a pele até ao sublime

aridez




Havia um deus que lançava flechas em silêncio contra a rocha crucial do vazio.
Outro deus esvaziava rochas de declives e de sulcos, propagando o corpo livre das ondas.
Chegou a deusa das águas e abriu a negação das pedras no pleno nu deste desenlace de cavalos ou touros ou Forças. Acima de todas as ruínas e cinzas. Definitivamente. Explicando os olhos que não morrem, senão de clímax e de verde abismo no verde ventre exacto da Hora dos lábios.

Caminho na densidade de um segredo que refaz a ferida no coração das evidências. O desejo das mãos ardentes. Sou ainda o olvido de mil meandros de clamores, entre o fruto e as estrelas. Acima da Rosa e da Flor. Seus poros e âncoras e arpões... tudo respira ofegante na poeira de Nunca.

Beberei contigo o sol e o seio. Oscilam os possíveis entre os ramos incertos. Quero. Absolutamente. Água de dentro de frutos. Amanhã. O barco será a língua na página enrolada de fogo e espuma. As vogais do nome vão até ao mar. Escrevo para ninguém, por nenhum ouro, senão morro com obscuras chamas nos flancos.

O deus da origem fala em gestos e em voos. Acima de extintos bosques de desejos e outras violências de guitarras espumantes. Creio no verão: seu hálito de excesso, com o sexo oceânico do futuro.

Monday, November 15, 2010

animais errantes



floresta de animais errantes talvez uma carta de Amor

os símbolos correm por todos os sentidos

cada dia de sol ou célula de sangue
persegue o Princípio-que-vem

a vibração do Zero-e-Tudo
com infinitos animais errantes

bons sonhadores que não acordam nunca
no mesmo universo onde dormem

Thursday, November 11, 2010

canções do Declínio


as canções do Declínio cobrem o corpo ofegante dos Amantes de Sophia

canções descontínuas como a chuva dos verbos sobre a pele ferida ardem

o sentido bebe a boca que não encontra a Origem daquele caminho de luas

tem infinitas mulheres a dispersão do Sentido pelo Frio mais-que-possível


sete canções de declínio sete bocas de sete mulheres em sete vidas
o ofegante tende para o Limite Superior do Sentido
ardem as atmosferas

um deus canta



um deus canta e adormece com as ruínas dos mitos a cegar o sol

Tuesday, November 9, 2010

le feu presque



une pierre cherche son histoire. en surface, les symboles. en profondeur, les fissures.

les oiseaux regardent les mutations. et dansent le noir contre le noir. vides et pleins de la nage ultime des noms épuisés...

femme



la femme s'interroge sur le possible. dessine un nid sur l'orbite de l'infini. avec ou sans tendresse. c'est selon la pesanteur des mains contre les ombres secrètes de peut-être. peut-être pas. outre le corps, l'échelle, la porte, un battement d'ailes, tout au lieu de rien - ou peu de chose. ouvrir ou fermer les yeux selon le fil du marbre. son fleuve qui longe le centre et les bras des animaux affligés. à l'excès. l'évidence de naître et de mourir sous les ponts où. peut-être pas. les amants occultent l'infini. l'orbite qui déchiffre la page la plus dense de sang. c'est pourquoi les confins crient. les poitrines doublement imaginaires et proches. je ne vois pas d'autre chemin entre l'éternel et le néant. une voix saurait porter les anges nécessaires pour que ces lignes partent en automne vers l'autre rive de l'amour. la nourriture hors Absolu. notre bouche de décembre ou de mai. de lune en lune. l'énigme de dire et briser le langage contre le marble. une femme au-delà des ruines. donne encore. l'excès du frisson de l'envers, du premier. c'est l'histoire qui s'écoule éparse, pulsion de récit, même sans lèvres capables de souffler la bonne catastrophe du poème interrompu par un incendie autour d'Ici. elle sait comme allumer le feu à l'endroit propice. au tréfonds de la flamme: une peau vient du marbre jusqu'Ici pour laisser le Lieu-Poésie. le mieux de la peau est de brûler l'ineffable des semences

Monday, November 8, 2010

song as raw as motion

Fictional Light



the atainment of the wine of truth is a spectacle that gods would restrict to themselves. no longer. the universe moves with my minute vessels. toward my most robust dreams of energy. Aboriginal. Absolute.

the dilemma of night and day must be incarnated in every wall against which my flesh brings the new cycle of sun. often cruel. always radical. longing for wombs and lips and elementary forces.

no ground on the whole aimed at Down. no law of physics. no Ariadne's thread but your stones on which my stones shall rest in war.

the walls demand our best muscles in order no to break in darkness as plural as my souls and their exceptions and many bodies and uncountable fibres. of mine. of yours. wholly yours from scratch. descended from the future. sparrows shall not fall. Nor Die. write it down on the chest of the Fiction

Gratidão Incondicional



Também as mãos se destinam ao barro como deus se destina à noite. A vocação é a obra anti-absurda - com gratidão incondicional pelo-que-é, pelo-que-pode-ser... pelo-vai-e-vem entre alfa e omega, intensamente laborioso e inteiro como as melhores ondas de outono.
Ignoro toda a arte da navegação. Não compreendo como acontecem oceanos e travessias. Nem como acontece o desejo de embarcar. Já perdi vários portos, transmutou-se a matéria do porto essencial. Lembro-me que estava no coração da biblioteca quando o meu irmão me falou da queda com palavras quebradas. Todos os pinheiros que havia no centro dos livros daquele dia rasgaram conexões alfabéticas nos meus melhores músculos. A esfinge mordeu no livro sagrado.

Há muitas metáforas para a vida; todas elas são verdadeiras se tiverem uma raiz de chamas inconsumíveis...
Hoje a minha imaginação é marítima. Lança-me espuma tão funda pelas veias do meu abismo finito que se dissolve a quase-loucura em quase-nada. Persiste um barro abstracto na palma da mão impaciente pela recriação das formas possíveis... a intimidade da génese... infinito no finito... confusamente grato por-tudo-em-nada...

Tuesday, November 2, 2010

Midnight

The earliest poem says midnight

from line to line facing the silenced spasms crushing images breathing
off times and times

I stress midnight poems
the tensions that ensure some Art
within hunger green and furious
midnight muscle tissues

also written are expansions of utopian rhythms
almost midnight partakes this crowd off
contraries