Monday, March 28, 2011

Rescrever a intensidade


Sempre-No-princípio.
Colocar os lábios no centro do teu segredo.
Beijar-te por dentro muito lentamente.
Compreendes a minha língua agora?

Hoje vou amar-Te
como uma força da natureza
como um vendaval abrupto ou uma chuva torrencial.

Hoje vou amar-Te
com minhas mandíbulas e minhas garras
com meus chifres e meus tentáculos.
Vou morder-Te e devorar-Te
com a feroz crueldade da minha Ternura Absoluta.

Hoje todos os animais selvagens os felinos os grandes mamíferos
os répteis venenosos todos os predadores implacáveis Te desejam e Te gritam e Te atacam de dentro do meu Amor Bruto.

Pensar em Ti é planear armadilhas e emboscadas perseguições transpiradas e aproximações rastejantes Tudo para que no Vértice do Instante compreendas que o universo inteiro Te ama de dentro da minha Violência Imaginária.

Todos os vulcões e sismos todas as catástrofes do espaço-tempo... Tudo é o amor caótico do universo a Buscar-Te e a Querer-Te até à exaustão da matéria no Nada...

Tudo através de mim o Haver-Ser-no-Limite

Debater-te-ás com a feroz ternura do meu Amor e ganharás sempre.

(Ao Omnipotente que não conheço peço anonimamente
um acréscimo constante da terna ferocidade
desta metamorfose incrível que é Amar-Te.)

Wednesday, March 23, 2011

carência de Origem


De um lado a espada
do outro a parede e eu no meio
contando-me a minha história muito mal contada


Se queres salvar-te não contes histórias.
Pois mesmo uma história bem contada não resolve nada.
Uma vida complica infinitamente
o narrador a narrativa a linguagem
os símbolos de carne e osso onde tudo arde.


Todas as crises começam pela impossibilidade corporal
de uma palavra ou de uma passagem
vitais.


Carência de Origem.
Perda de.

ondas de arder


Menina, virgem, me vim de minha Jerusalém para esta Babilónia, qual fosse então a causa dessa minha vinda, eram infinitas não sei dizer uma. Hoje, não lhe ponho outra Origem funda que o meu Desejo feroz de não morrer como nasci, menina, virgem. Desejo feroz de metamorfose foi, pois, o coração do meu coração.

Tudo arde sobre a pele e a pele sobre tudo.
Quase tudo o que arde cura.
Vou – à superfície de mim – onde nunca fui.
Voltarei por outro caminho.

Sunday, March 20, 2011

palavra de mulher


Esconde tempo na derme do poema. Talvez língua. Tua.

Desdobra os dedos no abdómen. Talvez alfabeto de abismo.

Também humidade incandescente na mão de mar lento. Tua.


(o teu silêncio põe rio. no leito da boca. somos aqui. o colapso de quando.
tanto. uma boca a dois. mais sós e nus. a hora fluida. Tua.)

Wednesday, March 16, 2011

regresso ao rio



a noite é uma linha entre os lábios e os lábios
nessa linha corre um rio um fio de água pelas espirais do espanto

a manhã volta sempre ao corpo circular que dorme e não dorme entre os lábios e os lábios

regresso de manhã ao rio onde nada rema tanto como os silêncios os vapores de silêncio e suspiro que lançam nevoeiro nas mãos e nos futuros

regresso ao coração da melhor fábula
regresso para compreender e descompreender os nevoeiros das mãos as durações dos lábios os meandros da Mulher suas espirais de Futuro seus rios de Transbordo
haverá sempre vertigens nas águas passadas e nos infinitos moinhos que não passam de passar
até que boca diga boca em vogais que dormem e não dormem sobre a praia ou o jardim da pele

regresso tanto
aproximo eternamente as primeiras questões e os primeiros incêndios
regresso ao sabor da pele para ler a língua
onde vêm compreender e descompreender as mãos que duram mais do que o rio e as águas passadas e os infinitos moinhos que se erguem de uma vertigem inflamável
a língua vai sempre às sílabas dos meandros

quase tudo sobe quando arde
regresso nevoeiro sobre a pele
nada de cinza na boca

Tuesday, March 15, 2011

anatomical discoveries


fears of vague hawks and desires

before plunging into the most complicated fruit

I could rebel for a passion and its multitude of fevers and liquids

why again the exhaustion of my crude powers
why the passage and the block
again
of powers and losses I know nothing

Monday, March 14, 2011

one word or syllable


the path comes from the solar rocks and develops through my temple the veins
an infinity of rays and waves concludes there is no breath without heat

my arrival into port is a mixture of myths I believe not

the summer calls up the birds the distances you are
you open my wings the full range of love and despair

this am I
and I do my best at the very origin of things and cries
contraction and closure of the eyes sudden rigidity and relaxation of muscles

go through the changes on the body as if and as if not various cries and things move or fly

the temperature of air engages the blood of desire at first sight
again at first sight at first terror the repetition of one word or syllable of yours

sudden trembling of voice and other first pulses of mine

love dares not live without the blank rhythm of some dancing or striving
like finally scaling the wall or collapsing otherwise
the trunk against the rock
perspiring a cold sweat
nothing but wholly

various skin-feelings a forest of muscular cries
an effort of touching in every joint
instantly on fire