Friday, January 26, 2024

Tu és a ponte suspensa


 Tu és a ponte suspensa

(Repousa um século e meio de luas novas
enquanto Tudo flui
sob tua carne viva
através teu temor de voar)


Tu és a ponte suspensa
e o amor da ponte suspensa
e o salto do amor da ponte suspensa
e a loucura do salto do amor da ponte suspensa
e a gaivota da loucura do salto do amor da ponte suspensa
e o grito da gaivota da loucura do salto do amor da ponte suspensa

Tu és a ponte suspensa: Por que estás tão só?

(Repousa outro século e meio de luas novas
enquanto Tudo reflui
sobre tua vida nua
através teu desejo de arder)

Tu és a ponte suspensa
e o aço da ponte suspensa
e a força do aço da ponte suspensa
e a altitude da força do aço da ponte suspensa
e o abismo da altitude da força do aço da ponte suspensa
e a canção do abismo da altitude da força do aço da ponte suspensa

Por que estás tão só?
talvez ofegante no meio do Perigo

Por que não vais à fonte e à foz
compreender como Tudo flui?

Sleeping alone and Loving alone on the Riverbed


 This is a river 
called Dragons, or Days.

(Drink some foam of It
Sing along intoxicated
seagulls: Vive l'Amour)


This Future flows in my century, accelerates in my fear.

I know you wonder why
Why are you sleeping alone and loving alone on the riverbed
Why are you such an incertain bridge such an undulation of air
why are you so void of muscles and energy
why are you flowing from the future
backwards jumping falling screaming backwards

firstly you overlook strangers and their tongues
rebels bathing within your waters
kung-fu masters from the second day of Genesis

then you wonder again why
Why truly cannot this riverbed play my Jazz
my drums stating the Reality-of-Flesh

You vibrate against Why
Why always the same the other the encounters
unceasing Wildness here

In a Word you drive alone
always undulating air within fear
always undulating fear within desire



(Write down the silence of your answer
your mouth in a Word)
 

Friday, January 19, 2024

Prophecies of Ruins-within-palaces

 

you know you guess you sense
the Prophecies whispering from within Power
the Affirmation of Power  the Intoxication of Power
the Empire calling soldiers from within every life
as though the victory in war were the secret of enduring
claiming eternity 

 the majestic palaces at noon will be ruins at midnight

the greater the Self-Affirmation
the greater the Self-Loss
ruins beyond recognition
ashes at midnight 

Thursday, January 18, 2024

Ruins and palaces: matter is flowing through forms


every palace grows from the same Fancy 

and stone perspiring dust

within every palace ruins grow from the same Soil 

and hunger masticating memory


matter is flowing through my forms 

devouring my Construction   





 

Socrates-Jesus-Hamlet: Loving Life Dangerously





Socrates, Jesus, and Hamlet

diverse heroes of tragedies (so aware of sacrifice)

quasi-suicidal characters

displaced beings or beings-without-place

between thresholds 

nowhere atopos

loving life and loving truth

dangerously (so aware of sacrifice)


In common they all questioned the senses and the veils

they all met the closest possible traitors  loved intimate traitors

they all knew the City and entered the Palace of the City and felt clearly 

how madness was burning within those walls 

Were they on the brink of giving life, or choosing death in this world, preferring another world?
Whose world is this? Whose life is this, in this world? 
Were they facing the judges from above Justice, and above war-and-peace?
Were they willing to assent to the Disorder in the name, hidden name, of above Justice?
 


Monday, January 15, 2024

Pretérito mais-que-imperfeito


 Ainda é o segundo dia
Ainda o mundo está líquido

Génese aberta

(as mãos criadoras ainda transpiram)

(todos os amores são possíveis
porque o Tempo Imperfeito 
ainda tem coração)

Friday, January 12, 2024

The sun guitar


 the sun guitar glows within nights

the sun guitar blows within
my poems
my strings  my rays 

the sun guitar promises more life
much more life than this flesh
finite flesh can fulfill 

Thursday, January 11, 2024

Kamikaze ballet


 and if?
And if a kamikaze cyborg pilot 
hijacks your dancing body
among and between hands
strings explosive drums
between and betwixt
jazz hands jazz mouths
explosive brass?
 
and if? 
and if the kamikaze rage hijacks
the fullness of your octaves
and accelerates your vessels until  
the edge of flamme
ballet of wings
between and betwixt
jazz hands jazz mouths
perspiring liquid bronze
on the brink of burning?
 
and if then you see and touch and savor 
the heart reaching the peak
as the kamikaze pilot throws your flesh 
against the chest 
of the red night
black hole devouring
naked bodies dancing bodies naked
red on black
black on red
vapor of stars
kissing within mouths
breasts within kissing? 

What is happening in this Life-World?

Is it Eros? Is it Thanatos? 
Is it Poiesis? Is it Pathos?


(Is it love? Is it war? 
Is it You  my Trauma?)

(You tell me
my Code 
my Enigma)

Tuesday, January 9, 2024

Coragem de criar


 Quantas vezes 
o mundo começa e acaba? 

Quantas vezes
alucino e deliro
aqui?

Quantas vezes 
tudo é dor 
no corpo exausto 
entre as rochas de granito?

Quantas vezes
caio e escorrego e caio?
Quantas vezes se repetem as quedas?
Quantas vezes o ritmo das quedas é maior que eu
maior que todos os ritmos quebrados da minha manhã?
Quantas vezes as manhãs são trevas para o meu corpo sem olhos
trevas mais confusas 
do que as noites? 
Quantas vezes é indiscernível o chão e o medo?
Quantas vezes se repetem as quedas
antes de ser capaz de compreender o espaço
para erguer-me e mover-me?
Quantas vezes 
Tu és mais verdade do que eu-para-mim? 
Quantas vezes
os meus sonhos são mais coerentes do que os meus sentidos?
Quantas vezes exclamo a liberdade de imaginar
outro corpo mais capaz de mim? 
Quantas vezes me aceito e me rebelo e me mato?
Muitas vezes em cada instante.

Muitas vezes duvido de Tudo 
na paixão de querer tanto
no desequilíbrio deste corpo exausto e cego 
contra as rochas  contra as rosas  contra o ruído das ruínas
contra o riso da esperança e seu diamante mais fundo
contra as trevas que sobem ainda esta manhã
contra os relâmpagos de trevas que fendem ainda o peito do Meio-Dia
contra as rochas que rolam na minha raiva-de-cair

Muitas vezes em cada instante
transpiro meu amor de mulher voadora
Muitas vezes
água e sangue em cada instante fazem os líquidos do corpo
fazem o corpo líquido púrpura que me escorre 
sofro a paixão-de-Tudo e a paixão-por-Tudo
dói tanto Tudo o que existe
carne vermelha

Muitas vezes em cada instante 
cada instante no seu infinito sou esta arritmia
infinitos ritmos de sofrer o tempo
ritmos de rochas e rosas roendo como tambores no tórax
fraturam as vértebras dorsais
desfazem o esterno e o arco do peito
quebram as costelas que protegem os meus combustíveis
meus pulmões ardentes meus projetos ofegantes
meus impulsos sangrentos de navegar

Quantas vezes começa e acaba
no mesmo instante
a coragem de nascer
a coragem de criar? 

Sunday, January 7, 2024

Poema materno: Amor-do-mundo


 Bebo o Amor-do-mundo no leite materno

Bebo ainda o mesmo leite com o mesmo sol por dentro
em casa e no caminho 
na hora de repouso e na hora de angústia
bebo ainda o leite que alimenta o Amor-do-Mundo   

Friday, January 5, 2024

Poema Materno: Sobre o Amor da Viagem


Minha mãe é o amor-do-mundo 
através do amor-da-viagem

Minha mãe é o Desejo Adolescente do Caminho
o Projeto de voar e dizer o nome das coisas vivas

Minha mãe é a professora do alfabeto e das primeiras frases:
aprendo a respirar lentamente entre sílabas difíceis
sentir as primeiras órbitas do mundo nos sinais

Minha mãe é a paixão da próxima viagem
e a repetição do caminho de cada dia
brincar na terra com as crianças mais livres do que vento

No inverno imagina minha mãe os caminhos na floresta
reunir a lenha para a fogueira da noite
No verão imagina minha mãe os caminhos na praia
ir juntos ao fim do areal falando dos barcos dentro da infância
voltar juntos ao meio-dia ao coração da praia falando dos barcos
os antigos barcos imaginados pelas crianças das montanhas

Minha mãe ó o amor-do-mundo
o amor das histórias de viajantes 
Permaneço no colo do Poema Materno
um sopro vivo começa a desejar mais mar 

Minha mãe é o meu amor-do-mundo
libertando  animando  o Desejo de mais Caminho

pegadas nossas escritas apagadas entre ondas
 matinais na areia da praia até ao fim do areal
onde a areia toca na argila e na rocha
falando das matérias primas da maternidade
enquanto as gaivotas gritam azul vivo dentro de Tudo 
vamos juntos voltamos juntos

falamos de casas dentro de barcos dentro de corações dentro de Tudo
espantos de crianças voadoras durante as viagens
ainda no Primeiro Alfabeto das cores
ainda no Primeiro Sol sobre a pele

Minha mãe é o meu amor-do-mundo-nesta-vida
amor-da-vida-neste-mundo 
através do amor-da-viagem: os filhos partem-e-voltam
os filhos têm a sede e a fome das memórias
escritas e apagadas entre a pele das várias infâncias
ondas de mar falando dos desejos inquietos de mãe
os filhos partem-e-voltam
crescem no Desejo-de-mais: exclamam nos trópicos e nos polos
o amor-da-casa aberta e o amor-dos-caminhos abertos


(o poema materno explica as órbitas dos filhos que partem-e-voltam
as casas crescem  fermentam lentamente como pão
enchem-se  esvaziam-se  na ondulação do amor-deste-mundo
vamos juntos à farinha à água: as matérias primas matinais
voltamos juntos à fogueira ao forno do pão: as matérias primas da mãe) 

Thursday, January 4, 2024

Psychomachia: embers and ashes-of-flesh still burning


At the heart of fire, when embers hide below ashes, 
you may confess to yourself earthling animal:
  
I am no longer the same 
I am no longer the one I ardently desired to be
worse I am no longer the one capable of me
- capable of truly becoming my truest desire -
I am no longer burning in peace 
reshaping powers and potentialities
ergo, I do not know whether and how I can still touch you
on the flammable edge
roses within gardens within forests
a wind blows

Tuesday, January 2, 2024

"...darüber muss man schweigen. / ...thereof one must be silent."

 "Wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen."

(“Whereof one cannot speak, thereof one must be silent.”)



Não há nomes nem verbos capazes de arder assim 

arder lento subindo olhos nos olhos 

uma noite vertical de inverno

(receias arder assim?

após nomes e verbos em Silêncio?)


Não há frases nem textos capazes de tocar assim

tocar lento fervendo olhos nos olhos

uma seiva fervente espumante 

(receias tocar assim?

após frases e textos em Silêncio?)

 

Não há códigos nem canais capazes de doer assim

doer lento murmurando olhos nos olhos 

um murmúrio materno de labareda

 (receias doer assim?

após códigos e canais em Silêncio?)


Nenhum sentido é capaz de mim: Silêncio por favor

Aponta Silêncio 

Aponta em mim Silêncio por favor

o alvo-que-não-se-pode-dizer

Silêncio aponta onde em mim nada-pode-ser-dito

Silêncio aponta: arde toca dói

no Mistério da ferida da filha procurando a mãe


Nenhum sentido é capaz de mim: Silêncio por favor

a ferida da Filha em mim correndo sangue de mãe

correndo onde começa o caminho-sem-línguas

sem saber porquê começa o tempo-que-sangra

à hora certa do espinho da rosa em mim


Silêncio: espinho da rosa 

Silêncio: espinho na minha carne 


Nenhum sentido é capaz de mim: Silêncio

o ácido o açúcar do silêncio apontam para não-poder-dizer

o Silêncio aponta para a ferida onde cai a noite vertical

mostra o lugar e a hora da queda

a abertura da ferida quando cai Silêncio

coisa de carne: espinho de rosa fere a Filha em mim

coisa de carne: espinho de rosa arde toca dói


O Mistério bebe este meu sangue de pó

esta minha cinza ardente: coisa de carne que grita

este meu vermelho oculto: coisa de carne que murmura 

é o Primeiro Dia do Mundo