Friday, January 5, 2024

Poema Materno: Sobre o Amor da Viagem


Minha mãe é o amor-do-mundo 
através do amor-da-viagem

Minha mãe é o Desejo Adolescente do Caminho
o Projeto de voar e dizer o nome das coisas vivas

Minha mãe é a professora do alfabeto e das primeiras frases:
aprendo a respirar lentamente entre sílabas difíceis
sentir as primeiras órbitas do mundo nos sinais

Minha mãe é a paixão da próxima viagem
e a repetição do caminho de cada dia
brincar na terra com as crianças mais livres do que vento

No inverno imagina minha mãe os caminhos na floresta
reunir a lenha para a fogueira da noite
No verão imagina minha mãe os caminhos na praia
ir juntos ao fim do areal falando dos barcos dentro da infância
voltar juntos ao meio-dia ao coração da praia falando dos barcos
os antigos barcos imaginados pelas crianças das montanhas

Minha mãe ó o amor-do-mundo
o amor das histórias de viajantes 
Permaneço no colo do Poema Materno
um sopro vivo começa a desejar mais mar 

Minha mãe é o meu amor-do-mundo
libertando  animando  o Desejo de mais Caminho

pegadas nossas escritas apagadas entre ondas
 matinais na areia da praia até ao fim do areal
onde a areia toca na argila e na rocha
falando das matérias primas da maternidade
enquanto as gaivotas gritam azul vivo dentro de Tudo 
vamos juntos voltamos juntos

falamos de casas dentro de barcos dentro de corações dentro de Tudo
espantos de crianças voadoras durante as viagens
ainda no Primeiro Alfabeto das cores
ainda no Primeiro Sol sobre a pele

Minha mãe é o meu amor-do-mundo-nesta-vida
amor-da-vida-neste-mundo 
através do amor-da-viagem: os filhos partem-e-voltam
os filhos têm a sede e a fome das memórias
escritas e apagadas entre a pele das várias infâncias
ondas de mar falando dos desejos inquietos de mãe
os filhos partem-e-voltam
crescem no Desejo-de-mais: exclamam nos trópicos e nos polos
o amor-da-casa aberta e o amor-dos-caminhos abertos


(o poema materno explica as órbitas dos filhos que partem-e-voltam
as casas crescem  fermentam lentamente como pão
enchem-se  esvaziam-se  na ondulação do amor-deste-mundo
vamos juntos à farinha à água: as matérias primas matinais
voltamos juntos à fogueira ao forno do pão: as matérias primas da mãe) 

1 comment:

Adelino Cardoso said...

Comovente expressão do desejo de viagem, do desejo simplesmente desejante, inspirada na figura da mãe, imparável no seu vaivém em torno do espaço sempre em expansão dos filhos e dos próximos.