Saturday, December 22, 2012

Labyrinthus 7

Menina, virgem, me vim de meu Arquipélago para esta Babilónia, no coração do deserto.






o meu corpo é uma combustão contínua. foi construído para temperaturas vulcânicas. ou cisões. até nada. fisicamente nada. indo da pedra ao vapor. numa borboleta.
eu seria a hora do desejo   o útero em chamas de tudo
de tudo o que grita no deserto oceânico. 
eu seria até nada. através. ponto e nó. ponto e nó. através. sem linha.

Labyrinthus 6

Esconde tempo na derme do poema. Talvez língua. Tua.





Absolutos vitais. nada se resolve, tudo se expande em oscilações vibratórias.

 exclamo-te. livremente. Dizes-me fogo que flutua. dizes o fogo é o tempo.
talvez maior do que a pele. língua de êxtase, língua de angústia, na minha boca, nos meus peixes de lava que passam neste arbusto onde adormece a primavera de leite e mel, onde começa outra viagem antes do cântico. Tremo no deserto desde a ideia de aurora. Submersa no orvalho, sou um fio de saliva sem lábios para onde.

Toca-me no vértice de caos, bebe meu sumo abissal de frutos inflamáveis.

Labyrinthus 5

Menina, virgem, me vim de meu Arquipélago para esta Babilónia, no coração do deserto.






Regresso tanto ao lugar de tanto.
havia pedras do caminho na derme trespassada
os olhos flutuam desamparados entre esquecer e falar.

a língua vai sempre às sílabas dos meandros. o delírio cintila com as mãos nos seios. Ambos frágeis, escrevendo sob ameaça de queda, mergulhando no carvão dos verbos. somos o jardim perdido cercado pelo fogo. 

Quase tudo sobe quando arde
regresso nevoeiro sobre a pele
nada de cinza na boca
tudo arde sobre tudo.

dizes o fogo. o maior desde que há dor na linguagem. Alguém sopra e sofre noite. fazemos rios, desaguamos mares e dizemos viagens de jangadas para perder o longe.
agora atamos os corpos como troncos. recomeçamos. não sabemos remar. ondulamos.
aprenderemos. as águas sobem. são labaredas de fogo. Dizes. sofrer assim é outro fio na mão, sangrando. Outro bordado, outro vestido de noiva. esperando nas margens do naufrágio

a tua fala é uma órbita de luas novas. dizes-me fogo com a minha língua.

Labyrinthus 4

dói-me a noite e a não-noite de quase sem sangue cair, quase cinza extinta.  

um dia começarei capaz de unir a hora ao frágil seio que questiona dentro de zero.
uma manhã sofro há tanto, o texto cresce neste útero que rasteja contra o sol Absoluto. sofro tanta manhã há tanto que não sei se ainda sou a palavra do coração pesado
ou se as pedras falam por mim de outro chão mais ardente. Atinjo a fonte do caçador, persigo-me violentamente com colapsos de vogais desconhecidas na minha boca lunar.



Regresso tanto. os olhos flutuam esquecem onde e quando somos.
aproximo eternamente as primeiras questões e os primeiros incêndios 
regresso ao sabor da pele para ler a língua. leio-me desamparada. na tua ânsia de. Intensamente perder os sentidos. aqui vêm nadar as mãos que duram mais do que o rio

e as águas passadas e os infinitos moinhos que se erguem para cantar o instante
de uma vertigem inflamável azul. sinto uma febre definitiva no nosso barco.
a língua vai sempre às sílabas dos meandros. o delírio cintila com as mãos nos seios.

Ambos frágeis, escrevendo sob ameaça de queda, mergulhando no carvão dos verbos. somos o jardim perdido cercado pelo fogo. 

quase tudo sobe quando arde
regresso nevoeiro sobre a pele
nada de cinza na boca

tudo arde sobre tudo.

Labyrinthus 3

Esconde tempo na derme do poema. Talvez língua. Tua.

 

Haverá sempre vertigens nas águas passadas e nos infinitos moinhos que passam e que não passam de passar até que boca diga boca em vogais que dormem e não dormem
sobre a praia ou o jardim da pele. todas as águas falam de orquídeas. a sua deflagração desde a raiz. Bebe-me ou lambe-me a ferida no vértice de Nunca. esse oculto vértice das trevas dos silêncios dos vazios Onde nós tão sós atingimos o texto que rasga o corpo. a dor que chama tudo e difere de tudo. um enigma com espuma de pétalas e espuma de pássaros e um grito de homem submerso que vem do meu Arquipélago.

Labyrinthus 2


Esconde tempo na derme do poema. Talvez língua. Tua.


Desdobra os dedos no abdómen, talvez alfabeto de abismo. Teu. Desenha-me de onde e porquê, teus dedos, no meu labirinto. Também humidade incandescente na mão de mar lento, tua. As ondas sobem até ao último planalto


Tudo arde sobre a pele e a pele sobre tudo. As pétalas ardem inteiras. Oscilo.

Quase tudo o que arde cura. Bebo labaredas de êxtase e angústia, neste cavalo.


Aprendo as tuas línguas de fogo, mastigo o sol nas pétalas da flor da vertigem.

Quase caio contra o fundo da onda que recua. Sou horror de vácuo e respiro.

Labyrinthus 1


Meu labirinto abre a boca. 
O sol do Oceano bebe-me, deflagra-me: aqui. Rasgo-me, fibra de texto.
Cada verso fura um corredor uma parede um impasse no Labirinto. Sou mais feroz aqui.
Faço-me e desfaço-me na língua que levanta o meu Labirinto. Agito-me no princípio.
Sou unidade do meio-dia-meia-noite no meu corpo sem Sinal de grito, somente espuma.
O vermelho da língua ferve. O azul do longe ferve. O teu punhal de trevas nuas ferve.

A minha pele tende para o limite: toca mais infinito e menos infinito. De tanto ferver vem vapor.

Sunday, December 16, 2012

desire at terminal breath

we must return to fire where plunging into language begins. give me your mouth, now. I need your trembling silent mouth now. I must plunge into the last verb of my bones, muttering bones. desire. holy desire, you shall touch and be touched, for we are approaching understanding. we converge while plunging, for love is a well in the desert, the last well before the infinity of nothing. and now is the poem that was missing. flesh lives on flesh, we are the ferocious, the voracious urgency.
desire from desire, layers of skin making circles around fire.
this hour has still birds awaiting your speechless hunting in the forest where the moon appears alone like the final text of waters. it's raining on the breasts, everywhere.
there is a dark flash in the house, our clothes sleep on the floor, our doors merge with the dunes over the page of skin. evidence overflows, speaks of loss all night. it was me, in need of fruit.
and moon encloses the minutest silence, before fusion at high sea. the womb is in confusion and my vacuum echoes submersed, for there are layers of skin everywhere, approaching understanding and the call of fire, seven times seventy. your mouth still missing. extremely naked, never warm enough, questioning zero.
 my burning desert desires half moon, grows unsolved. my Absolute. 



Thursday, December 6, 2012

Eros & Exodus

a cena esvazia-se, a aurora desmorona-se... Eros é condenado aos grilhões na caverna. a solidão cerca a circunferência Feminina da luz absoluta, perdida em Exodus. um íntimo labirinto infinito subterrâneo ou subcutâneo: somos. na feminina circunferência da caverna dos grilhões, somos condenados ao infinito perder-se. no chão cai a boca quebrada e bebemos as mãos de lama no abdómen de lama, como no princípio.
a cena esvazia-se, a aurora desmorona-se... somos a caverna onde dorme o sol de perder-se. as rochas transpiram de ânsias nossas, desfazem-se em lamas no chão. bebemos, como no princípio as lamas absolutamente germinativas. somos o útero da aurora, as sementes que mudam a pele.

a cena esvazia-se, a aurora rompe-se. estamos sós na caverna, mudando de pele com tanta fricção rochosa.  vibramos violoncelos de melancolia e êxtase na caverna donde vem o princípio desnudo da vertigem.

Sinto-me tensa e aérea, sou dentro do clarão o Instante de Vapor. renasço do abismo de Eros contra Eros, re-iludida com a carícia nos cabelos e o horror do vácuo na raiz da pele.
hiberno e mudo de pele todas as noites, intermitente como a respiração cortada pela incompreensão exaltada pelo esgotamento de tanta pele desmedida, tanta pele abrupta de urgência e avidez. despir-me no ar, jogando o pânico dos naufrágios: Eros contra Eros, atmosfera de flechas e sangue...   


Wednesday, December 5, 2012

woman unfolded

the scene empties, the dawn breaks.

she drinks mud till no longer able. 
Eros is here the master of tragedy.


Eros - deus invictus

you are invencible in every fight. the master of explosion. I recall silence always made out of flesh.

Here. Eros is. why. no battle without my vessels in flames and my erring bodies that cannot escape surrender.
I surrender to your coming foot, pondering madness for the entire stream of mine.

the veil alone makes blind the Whole.
drink my impossibility of a stairway to the sea. 
I do not know if I breathe or not, if I touch or not the wave. the true wave where the abysmal conflagration embraces the Instant of blown flesh on earth.

Flames burn flames themselves here. Eros is. why.

We taste the tongue of It. overflowing. as waters of revenge raining within veins against darkness, against fear. 
Eros stirs the Whole. drink uprooting fires of all hours. still lips. and petals. fading in song. at pains.

I cannot but tremble amongst spears and melodic sighs. 
the heart evolves from night to night. through a secret train and channels. undergroung with snow and inward struggle.

Love is not a native land but broken tongues absorbing an interval of fire. Eros is. why. beasts bark intimate. Eros is the speed of mystery and birds. 

Eros I scream wider than life.



Tuesday, December 4, 2012

untold beforehand


lips kiss and bleed.

no single word.  language trembling.


here two lips

Here two lips, at least two, lay ground for poetry of young fruits.
I revolve around Thee, longer than burial of stars, longer than real Me, when tears and kisses merge afresh. Here two lips bleed while kiss, as though eyes were burning through the ferocity of not-ashes... two lips, red skin of fruits, to devour all I whisper, all I tie with saliva to offer Thee, entirely, First Moon.

My throat weeps much deeper than myself, much freer than the songs of myself. 
Two lips. Here, tangible line from breasts to springs, It marks our bottomless symbols. 
I exist in your forgetting the troubled midnight where I weave, weave the gleams and rivers of at least two lips, unspoken. 
I insist on possible pasts and potential futures, and the tongue overflows bittersweet. Lips show humidity, bittersweet. in the breaking of dawns, I am the broken trunk that despairs of you. and the rains are we, and the snows are we. on the mouth, I write the tongue to nourish Eros while oceans and I perish, trail of electric debris...
If I could despair of you over the breasts where the fable begins or over the shores where the threads of beginings tirelessly do and undo my layers of skin...

two lips again at least, two always at least, nameless power anchored in Here. I know the rhythm of It. I have no word to dance It. I speak to the flesh while lips bleed so dreamily, as though kissing and hurting Infinity. 



Monday, December 3, 2012

lábio inferior


Dizer hoje que o lábio inferior caiu sobre um outro sentido do espaço vazio. Dizer que alucino hoje uma era primitiva sem queda do lábio inferior para o silêncio circular do meu caos. Dizer que poderia criar outros lábios de outra carne mais íntima do fogo, porque só o fogo acalma a minha floresta verde. Dizer que morder o lábio é o outro beijo, antes e depois da tempestade. Dizer não posso agora. Tenho a boca contra a pele incandescente do caos que vem com outros ventos adversos, sob a pele. Desdigo tudo o que carece da saliva que humedece o lábio inferior. E bebo aquele salmo descrente em que o louco diz "Não há nada dentro do vento, apenas fúria".
Ainda não disse hoje que te amo, porque a minha gramática do verbo amar não autoriza tempo, nem espaço, nem modo; somente um romper bruto de aurora no meio dos lábios até ao cerne de arder. Tudo o que arde cura. Tudo o que ama arde. Tudo o que ama cura. E a floresta desdiz o húmus com bandos de aves de Ânsias e de Elipses...
O caminho tropeça nos pés e as pedras correm para lava, se digo hoje que recomeço da boca, o vermelho do lábio inferior, sangrando de nada.

Sunday, December 2, 2012

lábios

dois lábios sempre, pelo menos dois

aprendo ou desaprendo sempre o caminho e a pedra no meio do caminho onde somente não sei.

a linguagem de tocar ambos lábios com outra língua mais líquida do que eu e não-eu.





Tuesday, November 27, 2012

always two lips, at least

if you approach understanding, you shall touch.
my mouth is many, in multitude of languages, still unfolding over bodies, through their origins, whenever whenever whenever It vibrates

lips kiss and bleed
fiercely at first tenderly at once and without alphabet under the first waves under skin

if you loose abyss, you begin longing the silent touch
lips, always two at least, retouch and set fire on the edge of It whenever whenever whenever It vibrates

until bleeding flows from kissing retouch
undone unbeen unhad
foam alone is It
  


Monday, November 26, 2012

elegia do Exterior

uma porta fechada entre um lábio e outro lábio faz abismo aqui fora.
poderei morrer de ser-sem-chave nem repouso de lábio sobre lábio.

aprendo a morrer no feminino, à porta. corpo de claustro. hora de febre.
aprendo a secar em mim tudo o que escorre até ao último vapor de boca.

closeness

dreaming and drumming are so close because of 
the hands on the skin

both hands 
and their gentle radiations 
or strokes or fever
on the skin 
other than me
ever new spring

origin of lips for infinite languages

tongues will come like inner flames


Monday, November 19, 2012

tantas luas, uma noite

a lua pode
nascer e morrer
na mesma noite, segundo o vento.
tantas luas quantas as veias
tantas veias quantas as línguas

a lua bate nos sentidos contrários, de um lábio para outro

sem a bússola animal do beijo, somente a boca torrencial

somente a voracidade, somente,
a lua pode semear e colher
na mesma noite
a alegria cega da chama

a colisão da chama contra a Noite
de Eros que explode, implode, explode, implode,
com o ritmo das ondas, tuas, contra o peito, meu.

a lua pode nascer e morrer na mesma fuga.
sei que foges da Origem para melhor dormir.
foges em círculos entre a língua e os dentes
e bates sobre aqui com agora

tu bates na pele dos frutos,
tantos frutos quantos os sonhos da Fonte.
bebemos bastante até chover, nós-chuva

Sunday, November 11, 2012

breaking up, breaking down, breaking through

regardless of the verses, my animals predate my forests and orbits... the broken polygon of Love, ad libitum...
again here. the new shade of the burned skin. this is the pre-history of dreaming.

Thursday, September 27, 2012

autumn in the womb

it's autumn in thy womb, Lady of Silence and Waters. It rains across your womb, Laby of Blind Fever. I am against while it blows alone, abroad, where woods of flames perish. your skin howls and whines, here, in the watery hours of naked timber, my limbs, undone, like grains into humus. the path, the footsteps, the broken tongues, uncreated breath, it rains overall. corpse is not the field where. do not weep, Lady of Autumn-in-me. do not weep but speak of leaves and call for birds that persist longer than the poem

ninguém dentro da flor

ninguém dentro da flor fala de morrer. mas eu morro como a flecha de Deus rasgando o fundo do medo. sou inquieta e transpiro de interrogar-me sobre, contra, através, desde. todos os animais vêm lamber os meus lábios cortados de sílabas incriadas, inertes, de tão incógnitas de mim para mim. estranho é o fôlego da rosa no meu útero trémulo de não-gerar a contra-corrente de ser-rio e arder sem-leito. sonhei com lobos que me comiam e que eu comia numa mastigação recíproca, além-melancólica. conto-te a história de uma nascente que secou até ao sangue. arrepio-me de dizer. eu entrego-me aos animais com a cegueira explosiva das labaredas e das lâminas. não há animais bastantes para morder inteiramente a minha carne. num instante compacto de vibração e de choque. todo o húmus da pele se transsubstancia  em energia e halo. sou o perigo do corpo fluir completo em espuma e vapor. invento o sentido carnívoro da atmosfera e expiro dentro da saliva de Deus, Tu, ó Cântico de Ar, Instante onde sangra e exorbita toda o apocalipse, coração inexplicável que bate mais depressa do que viver. sinto banhar o tempo na minha dissonância. nasci Contigo, no texto que não sabe rastejar longe da lua. a Tua mão é. a hora bate no tambor dos símbolos. amo-te até à fruta madura. e mordo o tronco de alegria 

Wednesday, September 26, 2012

fome bruta

a boca come a boca. tu comes-te. a fome come-nos, mulheres cruas. comemo-nos da placenta ao cabelo, da pétala ao espinho, escorremos na ideia de fruto. ardemos do hálito até aos ossos. e o rio bebe a nossa confusão de Desejo e Carência. 

Thursday, August 23, 2012

mulher

uma mulher ígnea numa varanda sobre a alegria. ondulante como mar. e tu dentro. 
o mar bate na aflição dos amantes abraçados como náufragos. e tu também dentro.

debruçada sobre o ínfimo instante de perder a guerra, perder sempre, contra o Mistério que tanto corta e tanto dói. 

há coisas brutas nas minhas folhas que não podem falar, secam a língua de areias sem regresso. a pedra enrola a pedra no corpo que desdobra o caminho... os monstros são obscuramente exactos como mapas do interior. 

somos as trevas do caminho de lava e escorremos ardentes sobre o princípio do mundo. 

vivo no intervalo das intensidades extremas. por ti. perco a guerra, perco o sentido, ganho a semente de jamais. acontecemos. através das paredes do útero contínuo. 

sou o esforço de gerar e nascer. não sei ainda dizer a palavra. 
aconteço mulher que infinitamente dobra sol na lua. vivo no eclipse da semente 
dentro da semente dentro da semente do meu útero que bate os segundos da Expectação. como se amanhã todo o texto fosse tempo de cantar. 

somos a possível passagem interior, boca-a-boca. como se o amor fosse. 
acontecemos chuva a despir a argila que somos e não somos. 

naked fiction

only hunger. hunger translates your body into mine. future rock of verses. the new self moves words from flesh to flesh. dust of fire burns between verbs and nerves. I long for your liquids. flowing in the landscape of angst. angst under silence. I believe in madness, ante, post. skin in ways my new self knows not.


this is the circle of hunger. anonymous first hopes. yelling my future adolescence. you breathe my metaphor. one second before explodind. letters float around climax. 

your mouth opens. my fingers sink. this love cuts the fruit and the core of the fruit. 

eros & poema

um coração é um abismo na montanha de outro coração. quem bebe as rochas aqui, no fundo de ninguém? sou hoje todas as sedes futuras a gemer na raiz. 

Tuesday, August 14, 2012

duas sílabas no ar

o sonho bate duas sílabas no ar. de que palavra ou vertigem? vê como bate como desmaia como sustém a palavra quebrada. aqui bate a asa no azul, contra os nós de azul no Inteiro, grávido de fumo e frutos de fumo e noites de frutos de fumo. esquecemos desvelar a frase no centro das duas sílabas que dobram o mundo, o vazio do mundo, o eco do vazio do mundo. entre nós, num abraço de naufrágio. uma ideia de naufragar numa espiral que se apaga na frase nocturna que não vem. dobrámos a terra da tempestade e somos tudo o que as luas inventam, entre azul e púrpura. ligamos as veias para aprender e esquecer os caminhos onde a alma é toda de corpo e espuma. as veias no limiar de outra matéria capaz de morder absolutamente outra boca. somos aqui no princípio. a curva do espaço onde a elipse nos reúne para nascer outro sol, descentrando a órbita de Amar sobre Devir.   

alba diagnosed

alba before me. 
all strata and mysteries of blue symbols. 
we were a long night phrase. moons have no mercy upon us. 

love is labor with Logos surprising Poiesis. and darkness creates Sophia with rage and streams fleeing to the sea. you shall not cover your breasts. all possible nudes dance on purple hours of awe.

cover, cover all over. need not tides and gulls in panic. looking for the signal, the savior. nine months, nine after the despair of never. 
we love and float, terrified by that boiling blood altering the nodes of relentless syllables. 

we echo Golgotha, knowing how, not knowing if. 

terrified again, begging in full misery. 
if you do not love me I shall not be loved. terrified again. the nonsense of not loving, not loving, not loving. nonsense endures heavy bones of absence.
the absence is the same, thread and node of flesh and sand. the space opens and shuts your breasts, your rains, on me, on my door, threshold of life shifting into mist. or receding into your last tide. high in the dunes. we sink terrified again. loving, not loving. 

I might be dead now. and your rain would persist. on me, without curing our terror. raining are we begging. excruciating syllables, suddenly unveiling rays of something, there, out there, somewhere.

a last saying rises through the whole globe of our breasts, silence set aflame by life. as if necessarily. 
a far cry again. a far. rises away.
if I do not love you I shall not love again. unless folly. but I whisper again the end of my word. what is the Word. it all boils and melts and rains. there is no language to cease this fall from last times.

Monday, August 13, 2012

errar

restam os ramos em nós. erramos. antes e depois das chamas. erramos altos, nutridos de chamas que ainda perfuram os olhos dos amores inacabados... 

na ruína do suspenso há inquietude. um tudo de nada de tudo no equador. na temperatura errada. equinócio perpétuo para fiar à noite e desfiar de dia, os cabelos rasos de injetar-Te-Me...

cadeias nos pés e nas mãos. ramos de um ao outro nas chamas cruzadas. somos carnívoros de angústia vermelha. comemos ainda em sangue a sua melhor carne. que somos...

... animais carnívoros devoram-se. desfazem-se recíprocos no vazio voraz da vertigem. não tenhas medo, diz a menina ao lobo, como-te enquanto danço, muito nua. e o lobo e a alcateia são a hipnose de um tudo de nada de Excesso... 

a madrugada é o chão onde se aprende o corpo-a-corpo. aí se começa. aí não se acaba. e sempre se interrompe a insónia e o sonho. aves gritam absolutamente...

estamos na queda encadeados. somos os ferros em brasa da prisão-madrugada. evade-se vapor de metamorfose. seremos Outra obscuridade sem matéria...

a energia desenha formas nas aves que gritam absolutamente o Limite fulminante. a densidade de Alfa e Ómega. no princípio. paira um vento de sinais. lemos o possível todo na Origem impenetrável... 

mas o amor (?), os círculos concêntricos que se fundem no silêncio branco de todas as melodias futuras possíveis. mas o amor (?), a escrita de apagamento. porque escrevo-Te-Me para apagar todos nos sinais num anel invisível de veias... 

conhecemos os textos de rasgar. porque esquecer há que salva o sonho que sonha o sonhador, que salva o desejo que deseja o desejante, que salva a salvação do salvador esquecido de si e da perda de tudo...

escrever apagando, somos. tanto esforço contra pedra nos ossos. pesamos. somos acréscimo de ser no limite. íngreme escarpa sobre nada. resta a febre dos ramos. mas o amor (?), bate-se ou Não. contra a interrupção que paira sobre os aparelhos respiratórios do incêndio. conjunto, disjunto...

o amor bate infinitamente, enquanto é Quando e Onde e Porquê.

chained

chained are we. branches perspire without fists. you fight against you. you exercise nothing. strength wasted with gentle fire. nonsense makes love furiously. green nonsense and purple kiss. we are jaws devoring our forests of newborn flesh.  

chains break flames and times into blasts of powerless arms. nonsense dances to the rhythm of iron strokes. chained we grow vaster sweeter easier than moonlights.   

Sunday, August 12, 2012

tronco

o tronco sobe até florir, explode no fruto e semeia, ao cair.

intervalo de ar. vivo nas fontes das copas mais altas.
uma loucura azul por dia. vivo rubro.
ou um dia por loucura azul possível.
lágrimas de festa nos ramos.

fabulous flight

garlands of furies and days. we gravitate and grow.
words kiss and bite the terminal florescence.

where is the knot on the rock on the fruit on the mouth? 
where is it, my tree? cannot know, unless the order of whirlwind falls into my net of appalling stones of chagrin. 

I quit the stormy landscape of my boiling skin, or Not. 

the sacrifice flows like hungry, thirsty, anxious, forests of hearts entering my fears... the bottom of craving sets the veins of air aflame. my fever, my appetite of assault makes roots and trunks and crowns pierce the rock... 

we suck the juice of ruins until dawn. this is the final knot in the air. Love you, red stone vein.   

Saturday, August 11, 2012

sentimento oceânico

 
na floresta de corais e algas, a Menina do Mar é o Mundo no seu Instante de fluxão curva de ser sobre ser. pesas menos de zero. somos aquém de sombra, a corrente fria que tende para além de luz. afundam-se as noites no singular júbilo.
no Indefinido se define a claridade. bebes-me vaga.

o teu Mistério me prende mais tenso, por acréscimo de Obscuro. infinito desnudar-se ondula novo, mais nunca, tendendo para mim sobre mim. o limite move sempre mais o princípio para o infinito. ser nua e longínqua infinita-se. fluxão curva que reflui ser sobre ser. sem choro nem riso. apenas concha. 

derramas-me desconexa e desnucleada sobre as correntes mais áridas e redondas do Interior. o Oceano é sem ângulo e sem superfície, somente um coração ainda ignorante de si próprio, no Extremo de uma fala tocante. donde o Desejo deseja a potência Desejante. sem choro nem riso, transbordo de ferida e de fascínio, pela vertente do futuro.

a Menina inclina a paixão sobre o abandono e a memória de um canto maternal. as fúrias do princípio sem memória desfazem a força. sinto-me incapaz de uma travessia pelo fundo. uma apneia que impele para absolutamente Todo-o-possível.
ainda desconhecemos a Forma interior de sentir uma exalação ilimitada que comunica o símbolo carente, sem conceito nem imagem. 

o Desejo sem objeto é a força indeterminável em nós de Todo-o-possível. ímpeto que faz sangrar nada em Tudo, somos absolutamente. vibração somente e melodia átona de corpo refeito onda, fibra por fibra. o Desejo sabe-me, sabe-te, por dentro das correntes. engana nada, nunca, ninguém. faz e desfaz de súbito, a forma da verdade fulminante. 

se ardes em apneia, és um ato oceânico, no fundo. 

Friday, August 10, 2012

climbing

podes subir o mundo todo, assim tocarás o fundo fugitivo, no inverso, que é o mesmo do contrário ao espelho.
se quebrares o espelho, o mundo permanece inteiro ao modo da luz e da treva, exterior ao teu corpo. porque o fundo não fica no mundo nem no corpo, não se toca no cristal do espelho nem no cristal da carne. o fundo é o exercício infinito de dobrar e desdobrar as sensações na língua e a língua nas matérias. mas a língua é apenas um lugar possível para concentrarmos o sentir infinito no vértice finito da planície ilusória de aqui. o espaço uno do real possível é Outra Inteligência a sentir o Todo Co-Construído e Co-Existente no instante obscuro. o instante pode fluir ou reter infinitamente, nada se altera no Mistério onde o Mesmo e o Outro passam pelo contrário frente ao espelho, penetrando-se de mais luz a contra-luz e de mais treva a contra-treva. avançar é adentrar-se, dobrar e desdobrar o espelho sobre o cristal da carne que começa, no fundo, subindo o topo do mundo. que começa, no fundo, a cobrir o mundo como uma densa atmosfera. onde a temperatura ataca as pedras, para lava, para vapor. e finalmente, respiramos o vapor do mundo e somos o Todo entre a boca e os pulmões. densidade de ar incendiário, vaporizando a matéria em Uno instante. assim, penso nas despedidas sem regresso como uma navegação invertida, que é o Contrário de Mim a quebrar o espelho entre a derme e os órgãos. aí se injetou o fundo fugitivo, o teu corpo submerso na Ideia de exílio, sem canais navegáveis, de onde, para onde. atravessar aqui o Inverso é quebrar-me, que é o mesmo de reunir-me, adormecendo nua sobre o espelho do Contrário. 
escrevo para ti, sobre ti. uma manada de herbívoros confusos no deserto, um bando de aves migratórias confusas no deserto. escrevo para ti, sobre ti, que é o mesmo de escrever para mim, sobre mim. atacamos o fogo com fogo, encontramos mais rapidamente na cinza, plantando na cinza outro fundo mais fecundo para o mundo de chama e vapor que somos. somos um ínfimo instante de chama e vapor. nada está escrito. ainda não há língua nem sinal capaz de nós. nem tinta de sangue capaz de ser capaz de ser nós. rasga o texto, rasga os pés. fala daí, que é o mesmo daqui. Convergimos para o cristal onde o Todo é Uno. somos, aí, a invenção da matéria, enquanto os símbolos exaltam a loucura dos símbolos através de nós. a loucura expande o caudal do Sentido nascente. o tacto é o teatro originante da vida. mergulhar é preciso, mais fundo, mais dentro. onde arder será melhor do que arder. compreender-se é adentrar-se.