Monday, December 3, 2012

lábio inferior


Dizer hoje que o lábio inferior caiu sobre um outro sentido do espaço vazio. Dizer que alucino hoje uma era primitiva sem queda do lábio inferior para o silêncio circular do meu caos. Dizer que poderia criar outros lábios de outra carne mais íntima do fogo, porque só o fogo acalma a minha floresta verde. Dizer que morder o lábio é o outro beijo, antes e depois da tempestade. Dizer não posso agora. Tenho a boca contra a pele incandescente do caos que vem com outros ventos adversos, sob a pele. Desdigo tudo o que carece da saliva que humedece o lábio inferior. E bebo aquele salmo descrente em que o louco diz "Não há nada dentro do vento, apenas fúria".
Ainda não disse hoje que te amo, porque a minha gramática do verbo amar não autoriza tempo, nem espaço, nem modo; somente um romper bruto de aurora no meio dos lábios até ao cerne de arder. Tudo o que arde cura. Tudo o que ama arde. Tudo o que ama cura. E a floresta desdiz o húmus com bandos de aves de Ânsias e de Elipses...
O caminho tropeça nos pés e as pedras correm para lava, se digo hoje que recomeço da boca, o vermelho do lábio inferior, sangrando de nada.

1 comment:

rasgos de ser said...

lábio porta
lábio fogo
lábio água
lábio movimento

os lábios contam a história da ocupação do espaço, inventam a cura para incontidas feridas que sempre nos habitam

dizem sem falar
tocam
e no toque despertam a pele,
agitam as águas do caos
movem as pedras

os lábios são-me