areia

se colocares a boca na areia de Poente, sentirás a minha boca. exílio de ave, cada hora.
todos os meus irmãos têm os cavalos e os ecos de cavalos que batem nos areais. para onde.

a song to thyself

i am the song, the place where. midday tonight.
eyes sing fully the perils and graces of touch.
lips we are light blue air. beyond rivers.
the nameless stream of joint silence.

the flesh of the poem embraces the flesh of the poet.
open vowels since all springs. waves of surges of desire.
closer. eyes murmuring the song. open time flash the prelude.
enfolds roses by the sea. imaginings after storms. confide in me.
rains rise, vapors breathe. a presence of bodies cascades joy.
to-day blank oblivion of disgrace

only metaphors survive

After the suction of all liquids.

The desert reigns again I sense

Only metaphors will survive.

You unwritten code are raw

Abrupt metaphor. Foam climbing.

cliffs. Breasts turning the tide.

Love off coast, rowing madly.

Toward the genesis. Furiously blue.

Only birds breathe the sole metaphors.

Surviving. Nothing else.

a and a

sunshine is nothing but the promise. a nest of planets.

insomniac my mouth reaches not the entire Ocean.

surface burning

unstable, she says the surface is burning.
all over my possibles. so much. she explains redness, intensely. all over my absolutes.

liquid, her hands speak, trembling before the letters, voices unveiling tongues.
now you happen. fruits, wines inject foam here.
do not touch my grain, undone by letters broken deeply around midnight.
touch vowells and consonants, with and against. fused like our springs in the beginnings.
my vowells and consonants came here perspiring entangled by the candlelight, flowing within Eros.

unstable, she made a fire and awaits the temperature within the excess.
red fibers of fire ascending muscle by muscle,
vowell by vowell between consonants.
ascending the inner tissues of flesh.

she unfolds her foam. now. her essences opening.
the first foam of love on the skin of things is burning... dream of surfaces
implosing like my birth. Eros posponed. tomorrow. maybe against maybe.
your chest rises. around the core or the vortex or the ruins of a certain moon...
moon still-to-climb. within... these lands of fever, these veins glow. tearing absolutes, possibles.
the moon is looking for you.

pássaros

Os pássaros incandescentes vêm aqui, entre menos infinito e mais infinito.

Vêm e lançam a combustão nas minhas ondas matinais.
Tenho uma profecia
agridoce
a fermentar
debaixo da língua.

Não sei beber nem inspirar o Obscuro relâmpago da tua Nascente.

Os pássaros incandescentes vêm aqui, entre menos infinito e mais infinito.
Vêm e gritam espuma.

O tempo é a combustão das minhas ondas matinais.
A minha língua vem da tua boca para esta areia, o abdómen do Mundo.
Tenho uma profecia
agridoce
não sabe falar.

O Absoluto Desejo fermenta debaixo da língua.
Não sei beber-Te nem inspirar-Te, Obscuro relâmpago da Nascente.

Serás Tu a minha Ferida primitiva?
a ferida que semeia Tudo quando o vento se levanta? Serás?
Diz-me o teu Mar na minha saliva.

inside the cave

inside the cave, blow a great gale. against me. as though the horses were transparent particles of all things together. all living things, speaking storms and wines. against me. almost exhausted, ruining the final stillness of never-forgotten. wild animals enjoy my land fiercely but understand this purple I call blood. remember the time when the trees plunge into my shadows, remember my walking through the stone fountains... your wings blind my heart beat... because it knows nothing of beginnings. where the entrance of the cave, under my pine forest. remember the promise of morning. except if the hounds get into rage inside your veins, except if the surprise denies your night face skin... against me.

self-collapsing strategies

A sense of direction—still missing. My flesh is raw—dreadfully raw and abysmal. Voices of desire abound and flow—stirring my sharpest beaten tracks. At first, I denied the metallic nature of uncertainties. Afterwards, during the night, I decided to withdraw from realities and plunge into possibilities. This is a radically new sailing technique and I know that full mastery remains always hallucinatory. By believing in Desire, the dialogue with time becomes the embodied movement of infinity within finitude. Rather than coincidence, there is ontological analogy between Desire and Infinity: what in my flesh behaves as the absolutely open Progress and continuously boiling Nothingness constitutive of Infinity may be termed Desire. Desire desires Desire. Within this self-voracious cycle, there is no Without. Desire is ‘The Self-Collapsing Strategy’. I shall tell my story from its angle and with its language, the only meaning-engendering Force. If I acknowledge its causal efficacy, I must acknowledge it fully and call it the First Mover or Power-itself. The Matter of God, for those who rejoice with nameless mysteries, is the essence of nothing but Desire. A relation or approximation aims at satisfying a sense of direction, that sense which is still missing. Within a seven-year-silence radius, few organic beings survive. A feeling of dubious thriving prolongs the thickness of all doubts. Can I convert or collapse Desire into Self—completely? Whether I can or not, fire does not answer. A non-idea repeating itself. Whether I can or not. Feeling of ropes, feeling of suspension. Along the non-path towards commencing or embarking or gravitating. Plenty of ruins before and after my building efforts, my stray imaginings and fears on You. We have been dislodged and we no longer recognize the arcs of our flights. Arcs of futures as well. Rising suns inside our anticipated loops of novelty. Delayed at all times, at each juncture. What next? My tongue burns and aches—further, without fulfilling nor alleviating. The central conditions of satisfaction misinterpret my unique fantasies and unique experiments on reasons to go and reasons not to. In effect, my practical reasoning combines All and Nothing—further, within a process of implosion changing again and again until blindness. My memory of You is a merciless mist surrounding my projective limbs—and further. Well built and as yet thirsty muscles may be redesigned, but so far they have been more potential than actual, more crossed than parallel, more calling than founding.

mountain-your-granite-futures

climbing the steepest mountains underwater. this is you. now. while flesh and blood melt and fall. dreaming intensely of bridges. have been studying bridges for many nights. the truth of their constructions. master it all and all to blow. if tomorrow there will be. through a narrow range of futures and possibles and selves. very narrow. despite the machines of nature. know nothing will come through those nightly gates. of ours. the fear is the impact surface of this hypothesis. boiling forces. gravitating forces. disruptive with self-feelings and salty mouths looking for beginnings to suck and bite. mouths create a round vacuum. and seven silences in a row. boiling before after during.

zigue-zague

eu sou o zigue-zague de olhos fechados. à tua porta, semi-aberta para Só. tudo o que amas, amas só, num zigue-zague de álcool no sangue. álcool no silêncio do sangue que respira tudo o que arde. tudo. somente. na exatidão dos pássaros. na violência das árvores. tudo o que arde. tudo o que grita. está aqui. eis! aqui aceso no meu zigue-zague, sem olhos, nem mãos, apenas um tronco de animal nu, cru. para que o texto se interrompa, como uma fratura que rasga músculos e crenças para além do corpo próprio. eu sou o zigue-zague que não promete nada nem espera nada entre menos infinito e mais infinito. a verdade é a água a entrar e a afundar o barco. a água a questionar o naufrágio. ou morres ou cantas. ou sofres ou danças. ou te trespasso com o Possível ou te asfixio com o Atual. ou te mordo ou te bebo. não vejo por onde te salvas sem Só. poderia ser muito do que não é nada nem será nada. entre nunca e hoje, todos os pulmões se convertem em músculos. todo o ar em pedra. o amor em apneia. tu mergulhas nos olhos fechados para Só. amas só. em tudo o que amas és só tudo, só. alucinas outro corpo colado ao teu. alucinas o Inteiro. é só a ideia de Infinito a sangrar... o álcool sofre no oceano onde és só. e estou todo em só. condenado a tudo. como tu, no princípio do combate. vens só. todos os conceitos abrem dor, cravos. tudo o que amas, és só.

onde por onde

Por onde iremos se não for por onde? desce uma nuvem maior do que as leis, desce pelo vértice de tanto Tu seres a voz que diz oito vezes o esboço do mundo. imaginas o dorso da guitarra, as máquinas do vento despindo mulheres, meio orquídeas meio heras, meio serpentes meio aves. sei trabalhar o teu alimento com plantas de tempestades. fervo para ti a inteligência imanente ao caminho. Vem por onde enquanto pedras... a verdade é a gramática com ansiedade de compreender-me... vem por onde. não há outro onde sem ser por. os corpos amam-se para além. mesmo antes do caminho. amam-se desde não-ser, ainda antes de uma Forma se encher de espuma...

só

Neste vértice, também esquecer não sou. O corpo da hora pesa sobre e através. mais não posso do que uma fala sem fio. Neste vértice, aceito o fim com suas ondas na minha saliva, quando o futuro reflui sobre e através e contra as minhas falésias de emergência. Se beberes na minha boca as aflições o mar, talvez o Novo Cântico sopre o barro. enquanto a pele aquece dentro de uma metáfora, um símbolo, uma ruína de sinal. Só um deus nos pode salvar agora. Só salvar um deus de nada. poderá agora? Posso? Poderei? Só um, só deus, só pode, só salvar, só agora? Responde, antes que seja cedo. Desejo é Nada, mas Nada

infinitamente inclinado para Excesso, fundo.