Friday, June 25, 2021

Duração secreta da fonte


 imagino a sabedoria do Princípio: apaixonar-se diante do mar pela Poesia 
e pela Duração secreta da fonte dentro de Poesia

Apaixonar-se enquanto a lágrima da plenitude cintila e dança e renasce
sobre a pele oceânica do mundo  
e exclamar aqui a vida passional de Aproximar-Te
a Duração secreta da Fonte-dos-Símbolos

o coração nas mãos e na boca é para Ti 
apaixonar-se na ignorância e na loucura e na liberdade 
esta manhã o Amor é um aroma de enigma onde o Infinito salva a história
despindo meu alfabeto minha língua meus sentidos de jovem mulher 
poeta jovem perdida mulher

a sabedoria do Princípio bebe a minha incerteza cruel de Palavra 
a dúvida a dor o absurdo que fluem no fundo de sangue frio ou solidão 

apaixonar-se e interrogar-se exclamando: Duração secreta da Fonte da manhã
o mar acontece na Poesia que abre a história da aliança na respiração 
as mãos tocam na boca à beira-mar

a própria força de respirar e de fundir todo o Desejo-vento em dom de poema
durando na ondulação da Primeira Vez: o Amor é a Catástrofe de Criar

a sabedoria despe a floresta ou jardim onde arde o fundo do Desejo
o fluxo das águas acontece no fundo do Desejo 
cantando o Teu Nome aqui entre as mãos e os lábios
na Duração secreta da fonte mais nua


o Amor é a Catástrofe de Criar 
a voz e o silêncio e a melodia da praia
vamos boca-a-boca clamando e beijando a Primeira Vez da Criação

Quando o Infinito era ainda a Força infantil de fazer mundo
e música de mundo e música de corpo e música de chão espumante para a nudez de Criar
a Primeira Vez a língua procura o Teu Nome colado à substância de cada instante

o Amor é a Duração da Catástrofe e da sua Ondulação  
Infinita catástrofe Infinita ondulação  
geradora e transgeradora de mar boca-a-boca 
o Infinito secretamente liga as veias da Primeira Vez às veias da Última Palavra  
o silêncio entre as mãos e os lábio transforma-nos em música
confunde-nos a matéria do Desejo e o nada de dar-se

a Poesia faz a duração de Amar nas catástrofes infinitas de Cantar 
uma harpa de espuma nos lábios que unem a Fonte e o Corpo possível
boca-a-boca

Sunday, June 20, 2021

Tronco marítimo


 Se o meu tronco é sempre um incêndio expansivo, 
quero aprender a meditar na paz inquieta desta árvore 
tão exposta a Tudo
tão enamorada de perigos
tão íntima de agitações e de vapores e de espumas de mar
Se confusamente o meu tronco mergulha no fogo vivo da nudez,
quero aprender a lentidão de mergulhar na terra e de lançar raízes nas fontes invisíveis   

Compreendo-me na fluidez subjacente das mulheres voadoras
Espero-me nas matérias femininas mais intensas e luminosas e extáticas
como se cada instante substancial fosse a paixão de nascer
no meio de corpos atraindo corpos impelindo corpos
na evidência de Sentir o universo táctil do Infinito
os infinitos vetores das infinitas espirais
das infinitas forças
em que todos os sentidos são momentos do único mistério da conjunção  

Thursday, June 17, 2021

Elegia para dançar: Durante e após o Colapso


 tantas falésias na memória de Desejar-o-Princípio

horror do vácuo vertical onde o Amor é a calamidade Maior
agitando os vulcões submarinos nos olhos que beijam a hora Obscura

tantas falésias avançam abruptamente sobre o medo carnal de mergulhar 
horror de ser só e de tocar no fundo de ser só
horror de quebrar as forças no fundo do mergulho

tantas falésias recordam o Colapso de Terra Firma no último instante

a bruma mais densa exalta-nos na alegria do fogo voador no centro do corpo
a bruma mais fecunda gera-nos e lança-nos e alimenta-nos com o Enigma da História

se dançamos a nudez integral salvamos as Línguas que beijam a hora Luminosa 
beijam com ternura furiosa todos os animais voadores
contra a vastidão indefinida de vento vácuo 

tantas falésias na voz 
minha voz diagonal escorregando na rocha 
a noite responde sempre às portas da Vertigem
repetindo a loucura de um Poema de carne ávida de tudo

tantas falésias desvelam a interrogação no peito
o Colapso de forças desde a infância
procurando a Palavra na areia materna de granito e sangue

viajar durante e após a libertação da noite à beira-mar
tantas falésias dão nome aos mares futuros que são ainda Desejo
no perigo de Alteração inteira

tantas falésias perguntam se temos as asas 
capazes de suportar o horror do vácuo até repousar no fogo 

Wednesday, June 16, 2021

Canção de Amor Oceânico


muitos poemas esperam a tua boca nas minhas ondas matinais
poemas para murmurar na tua boca livre
o meu corpo inteiro
entre espuma no clímax e pó de granito no fundo 
 
o amor oceânico chama a liberdade da nudez
canta uma simples vogal aberta de êxtase 
Primeiro Poema do mundo escreve amor 
mais alado e livre do que fogo 

o Oceano arde durante a noite 
ainda sempre carente de tudo
uma lâmpada cintila no Desejo

o caminho das correntes marítimas sopra no coração 
o sol cresce silencioso na penumbra da carícia 
descobrindo o fogo das ilhas 
a tua lua nova nas minhas mãos
os teus pássaros são o caminho do poema oceânico

o caminho gera-nos caminhantes
entre o Equador e o Espanto

Thursday, June 3, 2021

O Indefinido Limiar




 Sinto o Indefinido Limiar onde se aproxima o outro tempo ainda sem nome


Sinto nas copas das árvores 

outros pássaros desconhecidos nidificando, confiando neste mundo em metamorfose,  

chegando de onde nunca se escreveu o mapa


Sinto a alegria de entrar no perigo de nascer através e durante o Indefinido Limiar

Wednesday, June 2, 2021

História de abandono


 Abandono o tempo ardente da história. 
Imagino que soltamos os ventos à beira-mar.
De repente, o coração faz transparecer outra ondulação no horizonte.
Talvez seja amor essa solidão tão aberta, onde o Infinito é uma sempre nova intimidade e uma sempre nova desordem.
 
Porquê abandonar aqui o tempo ardente da história? 

Abandonar sem angústia, confiando no coração que deseja terrivelmente ser a evolução dos pássaros, entre água e fogo, vento e rocha, espuma e vapor. A linguagem dos pássaros inventa o Infinito necessário para enlouquecer aqui plenamente. 

A minha história de abandono 
contém a coragem de toda a história: eu repouso em abandonar-me aqui. 
A minha história de abandono é somente a coragem corporal da verdade 
transformando os ventos em pássaros e os pássaros em símbolos e os símbolos em melodias e a melodias em caminhos e os caminhos em nudez, 
integral nudez de tudo-em-nada, 
abandonando o tempo ardente da história, 
confiando a vida à Infinita inquietude da ondulação no coração.   

Abandonar-se entre vento e rocha é o dom de si ao Desejo de espuma e vapor.
Abandonar-se salva o Desejo sem nome, sem pegadas no chão, o Desejo-onde.
Aqui brota o melhor Silêncio 
que transforma em espuma e vapor o inacabamento do coração. 
Tudo escorre na vigilância de sonhar sem âncora.
Na coragem da verdade, a linguagem dos pássaros inventa conexões no Abismo do tempo. Aprendemos que tudo é tão novo, que toda a matéria é tão infantil, que desconhecer a forma da força criativa aumenta o Incondicional. 

Todas as solidões matinais convergem para esta Primavera que amadurece..., para esta comunhão de rocha e vapor..., para esta confiança em compreender corporalmente a linguagem dos pássaros

Amar o Enigma


O enigma maior vibra aqui no chão e na palma dos pés da Mulher espontânea

Amar o enigma maior é a possibilidade de persistir no caminho

O amor do enigma inclui o amor dos caminhos 
e o amor das suas inclinações de pedra e de perigo

No corpo do enigma renasce a Mulher mais espontânea