Thursday, April 10, 2008

(...)


Cada modo de silenciar tem seu modo de pulsar.
Assim, minha alma implode invisivelmente. Percute um ritmo novo, entre a queda e o voo.

De onde vem este sentimento de travessia de deserto?
De onde? Da secura na pele ou da areia na boca?
Do torpor de amar-me ou da fractura de desejar-Te?

Eu sou o meu derradeiro e mais intenso terror nocturno.

Descompreendo-me diariamente em lentos comboios subterrâneos:
eu-o-embarcado-no-infinito-de-Um-Adeus, infinito continuum de naufragar, plano inclinado dos amores abissais que fazem e desfazem o mundo.

Dizer-me Adeus oferece-me a paz de um pranto de viagem que promete o corpo exausto e nada mais (ou um tudo de nada mais, literalmente absurdo).

Farei do meu corpo e de tudo o que chamo 'eu' uma longa travessia pela perda de todos os nomes. Se puder resistir-me, fingirei crer ainda em caminhos e fontes, mas simultaneamente incendiarei o meu sentido do norte e do sul com Nada, e beijarei o meu sentido da sede com Nada.
Farei finalmente um alfabeto de gestos e, se houver nessa linguagem um gesto que salva, sei que, embarcado no infinito, tarde ou cedo, serei salvo sem saber, sem buscar.
O-gesto-que-salva... sera' pleno dom (ou nada). Vindo de onde nada vem.
Entretanto, a linguagem prossegue meu mutismo confuso, minha ferida-que-nao-sara.
E escreverei - seguindo o pulsar do meu corpo obscuro - para evitar a possibilidade e a certeza do Pior. Cada modo de escrever abre um modo de silenciar. Aqui, tudo pulsa com os mesmos tambores - obras de pele e de vento e de choque.

No comments: