Sunday, February 21, 2021

Palavras de ternura inquieta


 
O Oceano sonha com a Lua. 
Ninguém dorme enquanto o Oceano sonha.

Só existe Sonho na carne viva do Oceano. 
Só existe Sonho na espuma do Oceano e ainda a essência das palavras de ternura inquieta... Só existe Sonho na inquietude lunar do Oceano e ainda a essência da dor que não esquece nunca o lugar exato Onde o corpo queima tanto. Onde no meu corpo Tu permaneces: Tu és a ferida que salva e que espera e que soletra o Nome de uma plenitude ainda sem aurora... 

Só existe Oceano que sonha enquanto os rios e as montanhas vibram no fundo como aquela primeira angústia que procura o tempo do beijo.
Só existe Oceano no tempo e no sangue: Tu és a fábula que vem da Lua e devora o meu grito antes-de-ser. A fábula levemente ferida repete o grito devorado antes-de-ser plenamente grito na cúpula da noite cerrada que se abre somente e se desnuda somente durante a verdade de um grito. A fábula compreende toda a Poesia que sofre o Sonho de Oceano e exalta a sede cristalina que deseja somente aquela água terrível que faz espuma na carne viva. Diante da ignorância mais inteira, a fábula pronuncia o verbo Amar e, assim, se confunde o ar com o fogo, o obscuro com o cristal, o grito com o canto, a boca com o sol. Só existe Oceano e a fábula corre no deserto pelos canais que ligam todos os oásis ao meu sangue confuso. Só existe Sonho e um Oceano de pássaros que agita a Lua nos meus limites quase no tempo de Cosmos-Oceano, um todo. Só existe um rio que vem da Lua para ligar tudo no rosto que principia o movimento. 

As palavras de inquietude verdadeira mergulham o coração no fogo de outro coração. A Lua existe e sonha também nas veias do Oceano e na minha espuma ainda noturna, quase aurora. Só existe Sonho na minha espuma de plenitude e de confusão, um medo indefinido de arder no fundo, quando o eclipse despertar em carne viva e o abandono quebrar os ramos e as areias desesperadas falarem também da ausência...
O espírito do infinito talvez forme a espuma e transforme a espuma, porque existe somente Cosmos-Oceano e uma ondulação de pássaros que sonha sem dormir e sem despertar. 
Não sei o porquê de tantas lágrimas possíveis e tantos êxtases instáveis na ondulação onde ser permanece na ânsia sem vácuo. 
As palavras formam o silêncio e transformam o silêncio, confundindo as feridas com as nuvens. Não sei se encontramos o que procuramos. Não sei se as palavras procuram o que procuramos, todavia libertam animais e seus sons nebulosos que talvez aproximem a Respiração capaz de ligar as feridas e as flores entre a minha língua e a tua ondulação, entre a minha espuma de Oceano e a boca de Lua, ainda sonhando, na íntima nudez de mergulhar no Sonho, porque só existe Oceano no Sonho, só existe Sonho em cada palavra... 

Só existe Oceano no Sonho 
pássaros recém-nascidos na Lua fazem esta espuma, antes de aurora
exprimem aqui a inquietude, antes de aurora, onde ternura inquieta procura as palavras nas mãos sobre a plenitude da voz, encontra os raios de sol soletrando o Nome em carne viva durante a fábula e os equilíbrios contrários das ânsias, antes de aurora
o teu corpo existe somente em ondulação, em espuma, em Poema lunar que chama Tudo para uma lágrima suprema que mostra o tempo de beijar a ferida, o Infinito livre, o dom de Infinito
O Poema existe somente nas luas novas e nas ruínas de palavras... Há eclipse nas palavras de ternura inquieta, eclipse na terra e no ar e no fogo e na água e no rosto e no som   

o teu corpo na minha língua

a minha língua na tua boca
a tua boca na minha Respiração

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