"…Attribuez à mon souffle trop court ce qui dans mon propos restera obscur ou froid. Mais retenez la comparaison – elle définit le Livre en tant que Livre c’est-à-dire en tant qu’inspiration…" (E. Lévinas)
Wednesday, June 10, 2009
Daniel e Babilónia
Daniel compreende o deserto. Diz que o coração é a terra mais árida e que o arbusto plantado no quadrado mais árido do coração anuncia a Voz Daquele Que Chama no Deserto, para além do deserto:
"Sei o que é renascer pelas águas."
A poesia com que vivo vem toda de Babilónia.
Acredito que a poesia, que se funde com o meu sangue e com o meu sangrar, é a linguagem dos ventos de deserto. Babilónia é a cidade-cativeiro que fica no peito do deserto. Sei que há muita Babilónia nos músculos do coração. Não sei mais nada de sensível. Falha-me a língua e o corpo todo para atravessar a pedra e tocar-te. A minha noite tem canais para outras noites onde o fogo nunca se acalma nem se resolve. O meu chão fermenta na palma dos pés. A escada do coração sobe segundo o ritmo das luas, enquanto os leões ponderam os seus desejos ardentes de viagem. Gritarei melhor com a boca colada à tua pele. Compreendes por que estudo as estrelas e as vogais?
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1 comment:
Este texto, é dos tais que leio e releio, vezes sem conta!
Não conhecia Daniel Faria!Ainda estou a aprender a conhecer, este poeta !
Só sei dizer que a sua poesia é uma dádiva, é um alimento essencial para o espirito!
P.S. Obrigada por me ter dado a conhecer o seu blog, por partilhar o conhecimento e a sua poesia!
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