Saturday, November 23, 2013

passagens ardentes

levanto-me das linhas dos textos dos sonhos

o coração submerso imita a paisagem 
as correntes cortantes 
os cristais de perfume
 os sabores do Desejo 
desde o fundo do alfabeto 

pernoito no vértice do naufrágio  somente para escrever sobre Longe e esquecer sobre Íntimo e apagar sobre Tangível

as palavras abrem a boca a casa a floresta com o Excesso de Sismo. 
aquecemos uma mão noutra mão no labirinto mais fundo de ausência e de vazio rubro. 

tanto perigo na tarde 
e tanto sol no colapso 
e tanto barco na solidão 
dilacerando as aves ínfimas 
a loucura da derme de ti em mim construindo sílabas sibilantes para outra Ilha 
as aves irrompem nas dunas abertas das vogais à beira-mar da tarde vulcânica. mais nada. senão a voz de areia e a saliva de pânico semeando outra flor nos dedos nos lábios nas minhas nuvens baixas escrevendo na tua madeira oscilante.

nas curvas do abandono, não sei onde. o fogo acalma o corpo, gota a gota, rebentando o obscuro Tacto do amor furioso.
escorre a melodia do sangue no oculto fumo do Desejo. não sei onde. senão amanhã. no peito cruel dos sinais escrevendo a nudez lenta. 

escorre o Nome deste mar  inclinando Kaos para beijo frente ao lume denso 

e respiram as conchas dentro da ferida que vem e bebe e canta o suor da obra 
o grito da espuma dentro da ferida dentro da obra 
uma porta na pedra. não sei aonde caminhas... falamos baixo passamos ardentes sob a última dilatação das raízes ofegantes
transpiramos flutuamos alastramos a nudez sem medo de morrer aqui. quando a noite cresce sob a ponte do crepúsculo. todo o Desejo bebe os animais. o texto faz relâmpago e saliva enquanto espera pelo último véu. dormimos no chão sobre o fogo mantendo o Kaos aceso nesta Língua  que clama sempre mais do que nomeia. lembro  não sei onde  a eternidade partindo nos cavalos lancinantes da alba... a lua quebra o arco do medo de morrer aqui.  bebemos a catástrofe desejante. quase álcool  quase morada. persigo teu rasto. através  devastação talvez. tactear teu rasto e reler todas as falésias em mim... mantendo aceso o Princípio até à argila do dia máximo da Criação. Dói-me a minha nuvem no teu desaguar. Desejo a Desordem das bocas furiosas para Desaguar. Tudo é Cintilância... respiram enfim todas as margens da página Amante. Devoram-me enfim todas as Esfinges e todas as Falésias. Escrevo sobre a tua pele 
chão indecifrável para nascer em segredo 
esta outra Língua que vem talvez no auge  
anoitece mais aflita do que o meu falar para mim 
treme mais indefesa do que ternura de espesso fogo       



No comments: