Thursday, May 14, 2020

Hora de Viagem



Como mulheres escravas manietadas, 
as minhas viagens entre Meia-noite-Meio-dia 
são Alteração irreversível na nudez.
Cada hora de viagem bate, cresce, morde, 
queima, ensina, abre, 
sopra… Fica tudo
escrito no corpo, para sempre. Dizem que passam horas, 
mas não passam nunca,
as horas são forças geológicas, põem-se
 e sobrepõem-se, geram paisagem
sobretudo montanhas e abismos: a pele do espaço.

As horas nunca passarão. Se passassem, o mundo
não seria esta hemorragia
que não para de submergir-se a si própria. 
Se as horas constroem
ou desmoronam, obviamente ninguém sabe, 
mas sabe-se que não passam.

Não passam nem nunca passarão. 
Que horas são? Que tempo faz?
A pele nua interroga, a pele nua responde.

Está escrito dentro.
No Sol mais fundo da Derme

(o palimpsesto cresce Biblioteca
estratos infinitos de sentidos
entre a Epiderme e o Absoluto)

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