Monday, March 19, 2012

bater à porta


nunca partir sem bater e sem aguardar o instante claro em que se abre ou fecha o tempo, para ficar ou partir. depois da claridade de sim ou não, ter a audácia do caminho e da luz nos olhos e da nudez marítima.

sei. é preciso bater à porta para compreender que está fechada. quero essa compreensão na minha vida.

hoje, longínqua, estuda a ideia da porta para saber como acontece o milagre de fechar e abrir, saber como trabalha a fechadura com a chave, por dentro e por fora.

fica o mistério da minha vida aquém e além de cada porta onde urge bater antes de partir...

1 comment:

rasgos de ser said...

havia a frágil mão que batia à porta.
havia um jardim com flores de versos para oferecer à porta batida.
havia um corpo que sustinha a mão e que sofria...
...pela porta que não abria
...pela porta sem resposta
...por duvidar do seu bater
...por ter esquecido a magia de um antigo estar e ser habitado
...por não entender o mistério das portas que não abrem

mas também esse corpo tinha uma porta, uma morada. a branca e verdadeira parede moldava-se em torno da delicada porta que ali permanecia aguardando novamente ser habitada.
lá dentro refugiava-se o corpo só quando, depois de cansado bater à porta que não abria, reconstruia versos para as flores únicas que eram suas.

e havia um jardineiro que, de fora,
ao vento, à chuva e ao sol,
...guardava as flores,
...polia a delicada porta,
...cuidava das feridas da mão cansada de bater
...e consolava da solidão.

ficaria ali apenas até que uma porta abrisse e de novo a casa fosse habitada.