Sunday, March 4, 2012

questões no excesso


de mim tão longe a esperança de arder e curar o centro fundo das feridas. todas sangraram de ausência e cicatrizaram de abandono. mas as insónias abrem os sentimentos contrários.

contra mim própria vivo. procuro um afastamento de tudo para que nada perturbe os ácidos quentes do desespero. quero beber esses ácidos até me morrerem os lábios e a boca. agradeço o desespero, enriquece-me as temperaturas nocturnas com as febres que me agitam as imagens das primeiras hipóteses. os sonhos inacabados trabalham as primeiras hipóteses. recordo-me de pensar numa casa com as paredes vibrantes a respirar. viva. eu sei que desejava outra respiração. mas no sonho eu contornei a casa e não havia passagem para dentro. não encontrei nenhuma porta. apenas janelas muito altas para o meu corpo. vinham vozes de dentro. fiquei presa fora. torturada pela ideia das paredes contra mim e das aves que não serei.

as noites alongam-se com as tuas cinzas e as tuas cinzas e tantos séculos de paixões infinitamente inacabadas. é a realidade, veia a veia, a música lenta dos músculos a romperem-se contra as pedras. um novo corpo deveria nascer, mais nu e inteiro do que um relâmpago. ficam as vagas vertigens dos dedos frios nos cabelos de nada.

a certeza que não vens. explica a queda dos corpos contra o centro da terra. explica o horror do vácuo. até a pele tem girassóis que vêm do pó e voltam ao pó. é a realidade do primeiro dia após a distância. uma ave centrada na loucura explica-me a língua sem frutos. um uivo cego apenas decrescendo até aos dedos que passam no vácuo onde havia outras águas para banhar-se o fogo. todos os meandros do fogo com seus sismos de silêncio que ensinam a florir.

agora o sol tem lâminas. quanto mais amada mais desisto. os meus cavalos vinham atravessar contigo o perfeito caos da nudez, até ao último estrato de pele, até à última nudez. em pleno vento, havia os cavalos que diziam não adormeças nunca. o amor é a insónia completa. chamamos-lhe Tempo.

(se tu não vens, fica a boca fechada. tudo fechado à força de não ser.)

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