"…Attribuez à mon souffle trop court ce qui dans mon propos restera obscur ou froid. Mais retenez la comparaison – elle définit le Livre en tant que Livre c’est-à-dire en tant qu’inspiration…" (E. Lévinas)
Thursday, January 3, 2008
Para os Amantes Perfeitos
(Dedico este texto aos manos Fred e Daniela, Bruno e Marta; João, Tomás, Inês, Jacinta e respectivas incógnitas)
No princípio, queria que o meu Amor fosse um monumento de elevada civilização. O Amor deveria pertencer ao corpo das Belas-Artes. Iremos ao cinema, à ópera, ao museu, à biblioteca, dizia eu para a minha libido e para ti, de quem eu era coisa – todo eu era desejo de ser tua coisa, teu objecto, tua posse. Mas as fibras livres dos animais e das plantas, as forças ocultas das órbitas e dos ciclos dos seres inanimados gritavam de dentro das minhas células incendiadas. Amar-te-ei como uma força da natureza, como um vendaval abrupto ou uma chuva torrencial. Amar-te-ei como um animal selvagem. Debater-te-ás com a feroz ternura do meu Amor e ganharás sempre. Ao Deus que não conheço, peço, anonimamente, um acréscimo constante da terna ferocidade desta metamorfose incrível que é Amar-te.
Iremos ao cinema e ao sótão, à ópera e à banheira, ao museu e ao sofá, à biblioteca e ao tecto. Não ficará pedra sobre pedra nos nossos corpos. Os nossos corpos tão breves na história talvez infinita do Amor! Os nossos corpos oscilarão entre o vapor e a onda. Colocaremos, noite após noite, as mãos, ambas, sobre os nossos corpos, ambos, inventaremos os gestos que farão o rito da nossa verdade elementar, repetiremos o permanente diferir das rotações e das translações. Corpo a corpo, lua a lua, sol a sol: expansão do tempo único de enlouquecer profundamente ou de perder os sentidos intensamente ou de reconciliar-se com tudo e com nada.
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3 comments:
Finalmente, o tão esperado (por mim) post em português. :) Obrigada por ter sido também dedicado a nós... Incrivelmente bonito! Abençoadas canetas e teclados que deixam escapar para os nossos ecrãs e para os livros aquilo que de mais bonito escreves, a qualidade a que nos tens habituado. Obrigada!
Daniela
Obrigado pelo Sinal de passagem!
O Amor é realmente um sentimento fantástico que nos proporciona novas descobertas a cada dia.
Um grande beijinho
Marta
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