Friday, May 2, 2008

eterno retorno


toda a vida flui de todo o acreditar. acreditas?

há um fragmento anónimo de tragédia onde Eros corta os punhos e Psyche fura os olhos.
acontece ao meio-dia, em silêncio, frente ao mar: falésia sem porto: ausência de cais para . . .
não há vestígios de sangue, nem no manuscrito nem na praia, mas a profunda caligrafia demonstra a impossibilidade de não-sangrar . . .

as cicatrizes oferecem outra voz sem língua comum: cada cicatriz tem sua língua em seu corpo, cada face a face expande um equívoco.
os sentidos encerram opacidades recurrentes.
as línguas não sabem sofrer plenamente,
semeiam sombra entre sentir-me e sentir-te.

falta outra língua para a vida fluir
subindo para a nascente

Desejo outra língua de onde desejar-Te
com o abismo na boca

de onde renascer
pela água e pelo fogo

sobre a página branca
da pele

aí respira a alma
do Possível

aí uma língua
entre as línguas
faz Sol

Absoluto

1 comment:

Daniela Costa said...

Acredito! E também acredito que este teu cantinho de poesia nos lava a vista. E não só.


Daniela