Friday, December 3, 2010

corpo sobre pedra


A verdade é simples, mas complica-nos. Também a possibilidade do amor.
A verdade é inteira, mas fragmenta-nos. Também a possibilidade da morte.

Também a água é tão fácil de fluir e banhar, mas a sede mata. E a inundação afoga, mesmo na imaginária página desnuda de um corpo sobre o vento ou a melodia de outro corpo.

Se o que digo coincide obscuramente com o que calo, nunca saberei tocar o fogo sem o ardor lavrar a minha areia azul, com linhas de peito e de chão, para longe, para além de todas as sementes ou sílabas ou remoinhos latentes.

A raiz roda em torno do segredo: treme a noite e seus lentos lábios. Haverá sempre uma ferida que cintila e explode como um cavalo maduro, desdobrando suas luas torrenciais.

Uma carícia pode salvar do abismo. Uma carícia pode oferecer a concha onde murmura o mar. As asas do mar nascente, nos confins do desejo de voar, seriam frágeis línguas de fogo, abrindo as pétalas do silêncio, com sua saliva de beijo, onde germina um certo Apocalipse.

Os pássaros do desejo conhecem a frescura infinita da angústia. Aí cantam, como anjos que nascem e explodem com ternura e suor. Mistério da paixão: todos os músculos ardem. Também as pedras - as montanhas inteiras - vêm do magma e voltam ao magma. Não há vida nua, nem Princípio nem Respiração, fora do fogo. Quanto mais denso, mais verdadeiro.

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