Tuesday, February 13, 2024

Vertigem de Abandono


Recordo-me confusamente, intensamente... da vertigem de abandono... 

Recordo-me obscuramente com uns flashes de relâmpago multicolor... da vertigem de abandono... sentindo e imaginando na respiração vazia... como uma criança, eu-criança, poderia adormecer no colo da mãe e acordar um dia absolutamente só, selvaticamente só, sobre a rocha nua da solidão, no tempo do fim, ou o tempo após-o-fim, após o fim de todo o seu mundo vital, após o fim de toda a sua maternidade...   

Recordo-me nebulosamente da vertigem de abandono... a sensação-imaginação do terror de um dia poder-ser-só... a sensação-imaginação dolorosa da possibilidade ou quasi-necessidade trágica de um dia eu-existir-órfãmente... 

Angústia experimental de querer sentir o peso da dor futura, o peso do pior mundo possível futuro... Angústia auto-induzida para medir a potência do Desejo-de-vida e a contra-potência da desordem... 

Recordo-me obscuramente de querer sentir e imaginar as catástrofes do pior-mundo-possível, o ácido do Sacrifício, o caos dos processos de metamorfose indefinida... assim, aprendi o lugar dos meus músculos mais ínfimos e das suas veias mais ínfimas vibrando na respiração lenta, no limite do pulmão vazio... aprendi quanto todos os sentidos são tensões amorosas que temem perder-se...      

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