Saturday, January 25, 2025

os óvulos chegando dentro do fogo dos relâmpagos


 as neves eternas das montanhas foram atacadas pelo vulcão invisível do tempo e derreteram

hoje no fluxo do rio escorre a liberdade das adolescentes órfãs que escrevem em mim, por mim, comigo

este rio nasce no equador da liberdade, depois divide-se e sangra tranquilamente pelo lado obscuro da história, descendo ao pólo sul e subindo ao pólo norte, no mesmo ritmo e no mesmo segredo, desenhando um anel de águas correntes e de nevoeiros flutuantes: sinto a vibração do fundo desde a Grande Guerra  

tudo acontece no meu corpo de mulher entre os cabelos, os seios e os óvulos que crescem na passagem dos instantes mínimos, esqueço-me todos os dias de decifrar e escrever as alterações do meu código, mas regresso sempre dolorosamente à minha estranheza

Surpreendo-me a sentir dolorosamente a penumbra das florestas no fluxo do rio no fluxo da atmosfera: os sentidos distraem-se das sensações e caem no círculo abdominal da minha dor feminina  

durante a Grande Guerra destroem-se as pontes e envenenam-se as fontes e desviam-se os cursos dos rios: tudo acontece no meu corpo: falta a linguagem capaz das parábolas e das metáforas: na abundância do silêncio, preciso das tuas mãos orientais atravessando o medo dos meus pulmões

os ciclos lunares são outro Livro em que perco a direção da voz: quem fala? quem vive no Poema ofegante das adolescentes órfãs que escrevem em mim, por mim, comigo? 

dolorosamente a lua atinge o meu corpo com os relâmpagos invisíveis que voam em bandos na minha circulação sanguínea (a força essencial é invisível, mas tangível: os meus óvulos chegam maduros dentro do fogo desses relâmpagos: a minha história...)

(a minha história - a minha atmosfera inquieta entre o crescimento dos cabelos, dos seios e dos óvulos -  contém por vezes a ideia tangível de aventura Infinita: a Vida criando o Caos e o Cosmos e a História)

(a minha história: chove em janeiro na minha história, solta-se um iceberg da Antártida e sobe até ao jardim carbonizado onde o Canto de Hiroshima parece jazz de Nada: a omnipotência do génio maligno: a juventude da crueldade do absoluto: uma intensidade de átomos desordenados, desejando o Fim da Obra inacabada: Tudo acontece no meu corpo: não sei se dolorosamente desejo ou recuso...)

No Princípio, sofremos o enigma de nascer e crescer e admirar o fogo dos relâmpagos correndo nas Obras-Primas: os seios esperando o primeiro beijo...

Na minha história, há sete luas em torno do meu abdómen: procuro uma parábola ou uma metáfora para falar...

 a Ruptura das minhas fibras      

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