Saturday, July 19, 2008

Sobre a era da pele


É a Era da pele e as vísceras gritam.
Persigo seres vivos no meio da cidade, persigo-os com os meus fantasmas vorazes a uivar, a gritar suas carências ternas e enraivecidas.
Persigo abstractamente tudo o que mexe… persigo-te, persigo-me… tenho medo de mim nos ermos escuros. Pensar-me é uma rua mal iluminada onde temo cruzar-me.
Há poetas que escolhem suicidar-se nos rios, porque é a fluidez que lhes falta. Os rios ajudam os que não sabem nadar nem beber toda a água.
Eu, contudo, suicido-me lentamente nas margens, nas pontes, nos cais e em tudo o que respira e passa.
As águas da superfície são o incêndio interior das copas altíssimas das florestas futuras. Se te beijo por fora é porque me mordes por dentro. A profundidade, porém, é idêntica, apenas a natação ou a dança se altera, segundo as correntes e as ondas do espanto.
Penso na essência da verdade como vagas onde o corpo todo se enrola e se espuma – e eu todo e a minha duração é apenas isso.

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