Monday, April 25, 2011

nudez longínqua


Arquitecta. Ela. a-deusa-nua-que-virá.

Ela sobe para o quarto. desfaz duas paredes para construir uma fonte.
despe-se. defronte. desenha-se. descobre-se no feminino.
nasce de novo mulher para a nudez inicial. o corpo é o espaço. o jardim de oriente. a ilha do sul. a palavra que chamou o mundo para ser.
amar o que só pode viver sempre. fecho os olhos para ver a demora, o regresso do tempo ao tempo de Sim. o silêncio afirmativo transborda de Sim.
podemos nascer. é a hora das linhas entre o sol e o nada o sol e o tudo.

acreditamos nas árvores que têm a espuma intacta do possível mar. as ondas emergentes sobem do fundo. fundo sem fundo na pele sempre em torno do fogo. a possível habitação para partilhar. um leito vazio que naufraga enquanto não chegar o Tempo.

um círculo se forma entre um seio e outro seio. as mãos invisíveis do Desejo ardem por dentro. murmura o verbo Vir Entrar Ficar.

ela despiu o tempo. despiu o tronco a contraluz. meditou os seios. como se frente ao mar. um dia, será o princípio. ela estremece com a Ideia corporal de principiar. o desejo é mais profundo do que o mar futuro. quanto tempo para principiar. tocar a Origem. aprender a despir-se frontalmente. depor as feridas sobre a ondulação do silêncio inteiro.

ela despiu o tempo. ficou o instante. o íntimo e longínquo instante de desejar o princípio do mundo.

ela queria dizer: recomeçar infinitamente é o meu novo sol. quero uma linha de sol e sombra, entre a boca e a boca. um alento. uma carência definitivamente. nas veias da mesma noite.
Ela. Desenha-se nua. para semear ao ritmo dos lábios sobre os lábios.

Ela germina confusamente. mais-do-que-jardim. O Princípio abre as mãos.

3 comments:

rasgos de ser said...

« MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer. » Sophia de Mello Breyner Andresen

rasgos de ser said...

Na nudez bebo a possibilidade
Estremece ao despir-se o corpo que os lábios tocam
Fulgura a ansiedade da transparência
Vibra o que ainda vive


Continuarei a amar senhor que possa morrer porque seu corpo pode despir-se a caminho de

Contemplo a nudez mais nua

Amora said...

Ali sublime estava um corpo esculpido pelo olhar
Logo após ele se debruçar, se tornou Terra e Água

Estranho caso de corpo nu que aguarda o sol